sexta-feira, 28 de março de 2014

Nobre pássaro


Aquele nobre pássaro, não nascera nobre, não queria ele ser nobre.
Mas o enobreceram  por  nascer sem uma das asas.
Todos o tratavam como rei, e por uma asa que lhe  faltava,
Livrou-se ele de inúmeros impropérios
Cujo estes,  tornariam a sua vida demasiadamente árdua;
- vejam que sorte:
Não  foi preciso ensiná-lo a voar.
Não! Não lhe foi dado nem aquele empurrãozinho,
Que o forçaria  aprender a voar, só para livrar-se da queda...  
E se não precisava voar, não podia responsabilizar-se  
Por buscar seu próprio alimento...
Vejam que vantagem: para ele, respirar bastava.

Pássaro sortudo, por nascer sem uma das asas,
Não teve ele que gastar tempo com as inúmeras lições
Que tanto  chateiam a vida.
Não foi  preciso ensiná-lo sobre o mundo.
Bem, ao menos o mundo que não podia ver com seus olhos sem asas.
Mal sabiam eles, que basta um metro a nossa volta,
Pra imaginarmos tantos outros que não vemos, basta curiosidade.
Mas foram espertos, não o permitiram que tivesse curiosidade,
Pois só o torturaria. Julgaram que não precisava ele
Conhecer um mundo de que não desfrutaria.
Pensaram também, se ele não podia voar,
Não precisava saber o porquê de  fugir do frio no inverno.
Não lhe ensinaram para qual direção ir. Ele não precisava,
Ninguém o deixaria ir a lugar nenhum sozinho.
Não lhe ensinaram a pegar as correntes de ar para poupar energia.
Bastava para ele,  que os outros o levasse pra longe do frio.
- Reparem, não tinha ele que gastar energia com nada.

Era deveras um pássaro nobre...
Não o ensinaram a reconhecer os predadores.
- Faltava-lhe uma asa, que predador o atacaria?
Porém, refletiram um pouco e concluíram:
Falta-lhe uma asa, é muito vulnerável,
Qualquer predador, por menos eficiente que seja, conseguiria devorá-lo.  
Então lhe ensinaram todas as formas que conheciam de fuga,
Todas as formas de manter-se escondido,
Tipo: começar correr hoje, do perigo de amanhã.
Não o ensinaram, no entanto,  a enfrentar nada, apenas fugir.

Nobre pássaro faltava-lhe uma asa, não tinha chance se lutasse. 
Também não lhe ensinaram a construir seu próprio ninho,
Se não tinha uma das asas, não precisava viver sozinho...
Julgaram todos, que por esta falta, ele também não precisaria amar...
Tão pouco, aprenderia a amar... 
Não atentaram, no entanto, que o amor não é preciso ensinar.
Na verdade, certamente, julgaram todos, que ninguém o amaria...
Este julgamento partia do argumento, que eles mesmos, não amariam.
Logo, não o ensinaram a cuidar de seus futuros filhos.
Julgaram que por não possuir uma das asas, sequer os teria.
Ele era mesmo, um nobre pássaro sortudo.
Não lhe ensinaram  o nobre canto para expressar o amor.
Como se ele não tivesse coração, garganta ou bico.
Tolos! Mal sabiam eles que todos possuem dentro de si o canto.
E mesmo, não adianta ensinar o que se sabe sobre o amor,  
As notas são iguais, mas todo mundo canta diferente...
Era ele sempre lembrado, ninguém o esquecia.
Todos faziam tudo por ele,  
Também pudera..., lhe faltava uma asa!  
Nada o ensinavam fazer sozinho.
Esqueceram, no entanto, de perguntar se ele gostaria de aprender.  
Ou mesmo o que podia fazer sozinho.
O nobre pássaro era realmente nobre.
Todos tinham pena dele, o paparicavam,
O ajudavam em tudo, o carregavam pra todo lado,
Todos  notavam a asa que lhe faltava.
No entanto, ninguém via a outra asa que tinha,
Não via suas belas penas, ou que ele podia cantar.
Não via suas duas pernas, sequer o deixava usá-las.
Aquele nobre pássaro, não nascera nobre, não queria ser nobre,
Mas o enobreceram porque lhe faltava uma das asas...
E o resto, pouco importava...    

                                                  SAMUEL IVANI

sexta-feira, 21 de março de 2014

Sonhos de meninos



Buscavam aqueles meninos, viver...
É... Viver, nada além. Seguir aquela ordem, 
Aquela bendita ordem da vida justa aos demais.
 - Quão poucos eles queriam! 

Buscavam que pudessem “ser” algo, além de estatísticas. 

Ao menos fossem boas estas estatísticas. 

Preenchia aqueles meninos, 

Apenas o banco de dados da miséria, 

Da fome, da falta..., nunca de fartura de qualquer coisa. 

- Nada ao país acrescentavam estes números. 

Na verdade, buscavam aqueles meninos simplesmente: 

Poder buscar. 
É..., simplesmente o direito de lutar em igualdade 

Por suas ínfimas existências.
 Ironicamente e logicamente, buscavam eles respirarem. 

Desejam estes jovens um pouco além... 

Anseiam eles, esperança de mudar sua sina. 

Desejam eles, acima de tudo, poder escolher. 

Escolher entre passar pela a vida, ou a vida ganhar.
Escolher entre uma calça azul ou uma laranja, 
Entre comer uma pizza, ou simplesmente não comer. 
Desejam estes jovens, educação, trabalho e vida digna. 

Buscam estes jovens serem ouvidos, reconhecidos. 

Não se contentam eles, com as meras estatísticas. 

- Estes querem muito! 

Desejam eles oportunidades. Almejam vida! 
É..., Desejam eles casa conforto... E hão de querer mais... 

Desejam eles serem homens, com nome e sobrenome.
Desejam eles “serem” além do que a ordem da vida os predestinaram... 

Desejam, acima de tudo, mudanças.
E aos poucos, estão sendo ouvidos... 

Uma minoria talvez, mas há de com o passar do tempo, 

Estes meninos, jovens e homens, adquirirem o direito de sonhar... 

E há de um dia, estes desejarem, simplesmente,
morrerem e serem lembrados, 

por seus sonhos realizados... 
É, por seus sonhos realizados...

                                                   
                                                                  Samuel Ivani

sábado, 15 de março de 2014

Me vê um pouco de "eu mesmo"



Desejo um dia poder comprar
O direito de não precisar mais (simplesmente)
Comprar.
Desejo um dia poder comprar
O direito de ser vagabundo.
E poder ser quem eu sou,
Fazer o que eu sou,  antes de destruirmos o mundo.

Há  tolos que se fazem de objetos (inanimados)
Quanto mais objetos sem vida precisamos
Menos humanos nos tornamos.
E quanto mais objetos somos,
Menos fazemos parte do mundo.
Certo, que ainda há as relações humanas,
Mais do que antes até...
Há tantas declarações, que dantes não existiam.
Dias especiais: são especiais,
Repletos de mensagens belas.
Entretanto, estas, não são ditas cara a cara.
É preciso um intermediador,
Que sem este, tais palavras não existiriam e,
São ditas para que outros vejam..., 
As vezes, não pra quem de veras interessa. 

As fotos, cujo eram pra mostrar quem se era,
Ainda que superficialmente.
Hoje fomos além...
As fotos são tiradas em espelhos,
Sendo que o principal não é o indivíduo,
E sim, a marca do aparelho que fotografa.
Penso que os índios antes dos espelhos,
Sabiam quem eram; Depois deles..., bem sei!
Mas se eu quero “ser”aos olhos dos outros
É preciso possuir aquilo ou isto.
Eu não quero isto! “Aquilo” talvez...
Mais que eu seja eu,
Antes “daquilo”refletir quem eu sou...  
Hoje compramos tudo (sem percebermos)
Compramos os amigos, as namoradas.
Compramos nós mesmos,
Quando precisamos de algo (simplesmente)
Para se igualar a um, ou outro.  

Eu,  um dia desejo comprar
O direito de não precisar comprar.
Ao menos, não, para ser quem eu sou.  

Não é que eles não podem entender,
Eles simplesmente, não querem...
E aonde vamos parar?
Digo-lhes: não vamos... 

                                                                                                               SAMUEL IVANI

segunda-feira, 10 de março de 2014

Erros


Amar a mim. Não aconselho!
Sou inconstante, temperamental,
Desvairado, talvez até volúvel.
Tenho receio de tudo,
E sou daqueles egoístas,
Cujo se importa apenas com as próprias razões.
Posso amar-te em segundos,
 Sem razões nenhuma.
E posso odiá-la horas,
Mesmo que me dê todas as razões para amá-la.  

Amar a mim? Não, não devia.  
Eu não sigo a ordem dos demais no espaço,
Tão pouco no tempo.
Posso entregar-te flores em datas comuns
E esquecer de propósito dias importantes.
Posso viver de futuro, de esperanças
E morrer de presente, por mais belo que seja.

Não! Amar a mim, terrível ideia.
Não compreenderia;
Posso acordar para ouvir as cores dos pássaros
Naquelas noites de lua. Ver que loucura?
Posso querer correr na chuva,
Posso querer passar horas a vislumbrar
Joaninhas em um tronco qualquer,
Pois elas me trazem lembranças
De momentos que não vivi.  
Que adianta tentar amar-me,
Se não serás capaz de me compreender?

Amar a mim? Não, não devia.
Eu sou fraco, medroso,
Precisaria que tivesse coragem por dois.
Eu sou um sonhador, vivo de sonhos
Sou um romântico,
demasiadamente racional.
E amo a vida em sua simplicidade. 
E apesar de tudo: não me conheço.
E ainda há o mais grave: EU PENSO!


                                                               SAMUEL IVANI. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

A garota invisível



Antes não se via,
uma garotinha nua, a correr na estrada escura.
Cabelos longos, mal cuidados,
de pés empoeirados,com sorriso inocente,
sem dentes, mas sorriso claro.

O tempo passa.
Ainda não se vê a garotinha,
no seu ponto, naquela escura estrada.  
Mini saia de couro, 
semi-nua, busca apenas respirar.
Ela já não corre, não sorrir, 
Mas ainda não se vê a garotinha,
que antes corria, hoje estática.
Foi-se sua inocência, 
o seu sorriso visivelmente largo.   

Finalmente,  todos veem a garota invisível,
nua, no meio da rua, sem respirar.
Fora ela violentada pelo mundo visível,
Aquele mesmo que antes não à via.
E amanhã... Amanhã a vida continua,
e outras garotinhas nuas, correrão na estrada escura. 

quinta-feira, 6 de março de 2014

MODERNA SAUDADE




Saudade da caneta, das letras azuis, das linhas.
E...! Saudade das linhas, do borrão sobre os erros,
que crítico de mim mesmo,
não perdia por completo meus anseios.

Saudade do velho caderno já sem espaço.
Culpo as máquinas, esse velho moderno, estático,
Com suas letras já prontas,
Suas invisíveis linhas inesgotáveis,
Que dá a vida um desconto,
Dá a vida já inspirada.

E o velho caderno no canto,
cheio de orelhas, amassado, não o tiro de lá.
Espero que o tempo espere e não o decomponha,
Antes de só mais uma vez, ver as letras vivas,
Que lá escritas, deixei sonhos ainda por sonhar.
Espero que o tempo não o decomponha,
Sem que de novo escreva lá.



SAMUEL IVANI.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Amo um passado teu


                                 

                                   Amo um passado teu que eu sequer conhecia;
                                  Amo teus olhos de outrora,
                                  Teus cabelos quando eram longos.
                                  Amo todas as tuas alegrias já sorridas.
                                  Amo um tempo que eu não existia para ti;
                                  Ah..., e como amo as recordações de momentos teus,
                                  Que contigo não vivi!  

                                   Amo um passado, mas não o meu.
                                   Amo demasiadamente as conquistas primeiras,
                                   Em que nos esforçamos até o ridículo
                                   Para impressionar quem definitivamente não liga.  

                                   Talvez amo tanto este passado,
                                    Devido a minha incapacidade de construir um futuro.
                                    Mas que importa?
                                    Sei mesmo é que  odeio um passado meu, 
                                    que se te conhecesse,
                                    Ao certo  amaria...

                                    Definitivamente o tempo devia ser um eterno regresso,
                                    Em que pudéssemos viver e reviver o tempo todo.
                                    Uma coisa é certa: menos erros existiriam.  
                                    Poderíamos sempre viver aquele amor do passado,
                                    Em um tempo sempre presente.
                                    E o mais vantajoso: as lembranças não existiriam;
                                    Logo, viveríamos.
                             
                                          Samuel Ivani. 

domingo, 2 de março de 2014

Já se encontra disponível na Amazon meu livro, "A cor que tem as nuvens."


  “A cor que tem as nuvens” narra à eterna vida de Emily; uma garota que possui uma sabedoria privilegiada, pois mesmo em meio às adversidades, ela vive a vida com a intensidade de um imortal. Pois o tempo não deve jamais determinar a intensidade de uma vida. 

Ela enfrenta o mundo com suas injustiças com a maior ferramenta do ser humano, que é a mente; deixando de lado as influencias humana, e encontrando na suavidade e grandiosidade da natureza, não um refúgio, mas um meio de "ser" na sua maior perfeição. 

“É no mais profundo recôndito da mente do homem, onde ele é menos racional, que se encontra a chave para a perfeição.” 

A cor que tem as nuvens, apesar de ser um livro que trata de fins (pois narra a estória de uma garota com uma doença terminal) deve ser visto como um indutor de inícios. 


Seus relatos mostram o quanto apesar dos pesares e das injustiças, que se é possível que recomecemos ou que continuemos sempre, pois para quem conhece o recomeço os fins não existem. Se delicie com a vida vista sempre como eternidade. "AGORA É SEMPRE ETERNIDADE." 
Em "A cor que tem as nuvens" o leitor pode optar ler do último capítulo para o primeiro, como o contrário. Sendo que dependendo da ordem que escolher ler experimentará emoções bem distintas. O livro é diferente de tudo que já se publicou no cenário livreiro. Enfim, "a cor que tem as nuvens" é um livro de inteira felicidade, pois o escrevi utilizando o único instrumento que se é possível acionar todos os sentimentos ao nosso bel desejo, que é a mente humana.   

sábado, 1 de março de 2014

Dúvida, só em curtos momentos.

"Quem escreverá a história do que poderia ter sido o irreparável do meu passado;
Este é o cadáver.
Se a certa altura eu tivesse me voltado para a esquerda, ao invés que para direita;
Se em certo momento eu tivesse dito não, ao invés que sim;
Se em certas conversas eu tivesse dito as frases que só hoje elaboro; Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro seria insensivelmente levado a ser outro também." 
FERNANDO PESSOA.

O problema é quando não dissemos nem que "sim" nem que "não", quando ficamos em cima do muro. Desta forma, o nosso universo é inevitavelmente como tem que ser, e nunca vai mudar devida nossa falta de decisão. Passamos a vida inteira sonhando, imaginando as decisões que faria do nosso universo da forma que desejamos, mas não agimos de jeito nenhum... Mas às vezes, o universo de uns é aquele ilusório mesmo, cujo cabe apenas algumas gotículas de realidade. "Há quem viva só de sonhos."
Decida-se! Qualquer mudança, mesmo que seja ruim, lhe traz, no mínimo, aprendizado; ruim mesmo, é uma realidade estagnada.Quem nunca se decide, estar destinado a sempre viver no universo do "e se"..." S.I