terça-feira, 15 de abril de 2014

Sentido há nos gaviões



Você parou de lutar, Desistiu talvez,
 Ou recomeçou longe dos sonhos que eu tinha,
 Ou talvez lute distante demais,
Eu é que de perto não percebo.
Você parou, parou naqueles meus primeiros passos,
Pois julgou erroneamente que eram os meus últimos.
Ainda que fossem, sempre no fim, há esse negócio
Que os homens chamam de recomeço.
Você parou, fugiu, correu pra o conforto de qualquer solidão.
Não posso enfrentar a sua falta de luta.
Ao menos fosse forte o suficiente.

Você parou antes de conhecer os meus sonhos,
Antes de saber que  eu queria caminhar contigo
Em um fim de tarde, escolhido sem critério algum.
E que em algum momento desta caminhada,
Eu arrancaria uma flor rocha, de uma plantinha qualquer na estrada,
E a entregaria em silêncio.
Você então,  sem pensar, tentava sentir o seu cheiro,
Mas lembra que a flor não exala cheiro algum...
e embaraçada me abraçaria...

Aqui acaba  meu sonho, bem aqui...,  
Pois qualquer coisa de mais real,  
Esbarra na tua falta de luta. 

Agora fujo do romance por inteiro,
Pois não há nada mais justo.
Sendo que há dois gaviões carcarás
dentro deste mesmo sonho,
Donde lá me encontrei sempre sozinho, e ainda me encontro.
 Dilaceram eles uma cobra,
Eles lutam por ela, ferozmente.
Ou não! Talvez eles a dividam cordialmente.
É que sua harmonia, aos nossos olhos humanos, nos pareça luta.  
Uma certeza eu tenho, aos meus olhos eles lutam.

Não faz sentindo isso, eu sei.

Mas quem disse que algum dia
Quis dar sentindo ao que digo.
Tu que és tolo é que busca sentindo, e encontra,
Afinal sempre encontramos o que buscamos,
é inevitável.
Talvez se eu inserisse neste poema a morfologia dos teus olhos,
ele fizesse mais sentido,
mas sentindo há nos gaviões,
estes, de olhos sempre atentos dilaceram uma cobra.
Eu, sentido uma saudade enorme do passado,
Sinto-me um escorpião,
que os gaviões ignoram...
Se eu pudesse voltar no tempo
Não colocaria os gaviões neste poema...
Não é que eu a ame ferozmente,
é que sem aqueles olhos, se vão minhas razões...
Minha princesa de pele rosada, e olhos tristes,
Segura uma flor sem cheiro,
que nunca pude dar,
Pois tu nunca aceitaria...  

                                                   
  SAMUEL IVANI 

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