Vem ela, dança ao meu redor,
Rebola a dois passos de mim,
E mesmo assim, tão perto,  apenas a sinto; 
Não vejo suas curvas,
Não vejo suas curvas suadas! 
Posso ver as estrelas, posso ver a noite
Posso sentir o ar frio,
Mas suas curvas não! 
E dói. 
Posso sentir também o calor alaranjado
De fogueiras e tochas em toda parte.
Mas o que me dói mesmo é não poder vê-la;
Ver as curvas, os movimentos da morena 
Que dança e rebola a minha volta. 
Há nesta mesma cena, 
Muitas folhas, daquelas verdes e triangulares,
Há homens, tão negros quanto à morena que dança. 
Não estão famintos de gente, 
Mas desejam alimentar-se de uma divindade,
Que não encontram em si mesmos. 
Eu não ligo os cipós que me amarram, 
Não me importo com a dor, 
Ou porque às vezes vejo só o céu, 
Ou só o chão...  
Dói-me apenas o fato de, 
Eu não conseguir ver a morena que rebola, 
Tão humana e tão suada...
Ela dança em minha homenagem
E eu, não posso vê-la.
Que injustiça da vida, esta que se cessa
Quase sempre no jantar.
Esta morena que dança com poucas vestes, 
Daquelas de capim,
De cores que realçam suas cores, 
Que realçam o seu brilho,
digo que,
digo que,
O maior martírio no
fim da vida 
É não ver a morena que dança em minha homenagem... 
Ao menos, me desprendo do veneno da vida,
E  sirvo de alimento
para quem tem fome, 
Para aquela morena que dança...   
                                                                       S.I 

 
