segunda-feira, 19 de maio de 2014

Sacrifício


Vem ela, dança ao meu redor,
Rebola a dois passos de mim,
E mesmo assim, tão perto,  apenas a sinto;
Não vejo suas curvas,
Não vejo suas curvas suadas!
Posso ver as estrelas, posso ver a noite
Posso sentir o ar frio,
Mas suas curvas não!
E dói.
Posso sentir também o calor alaranjado
De fogueiras e tochas em toda parte.
Mas o que me dói mesmo é não poder vê-la;
Ver as curvas, os movimentos da morena
Que dança e rebola a minha volta.
Há nesta mesma cena,
Muitas folhas, daquelas verdes e triangulares,
Há homens, tão negros quanto à morena que dança.
Não estão famintos de gente,
Mas desejam alimentar-se de uma divindade,
Que não encontram em si mesmos.
Eu não ligo os cipós que me amarram,
Não me importo com a dor,
Ou porque às vezes vejo só o céu,
Ou só o chão...  
Dói-me apenas o fato de,
Eu não conseguir ver a morena que rebola,
Tão humana e tão suada...
Ela dança em minha homenagem
E eu, não posso vê-la.
Que injustiça da vida, esta que se cessa
Quase sempre no jantar.
Esta morena que dança com poucas vestes,
Daquelas de capim,
De cores que realçam suas cores,
Que realçam o seu brilho,
digo que,
O maior martírio no fim da vida
É não ver a morena que dança em minha homenagem...
Ao menos, me desprendo do veneno da vida,
E  sirvo de alimento para quem tem fome,
Para aquela morena que dança...   

                                                                       S.I