sábado, 20 de setembro de 2014

A ignorância é um bem de todos



Carrego a verdade absoluta 


Descendo de uma raça antiga, sem alma, cheio de dor e detentora da verdade absoluta. Porém, meu calcanhar lateja, pois desço todo dia às onze da noite num beco escuro e, tenho que caminhar sobre pedras, sobre o meu medo infantil do escuro, e isso, machuca-me os pés e tira-me a calma.  

E dia após dia, incansavelmente, sigo a mesma rotina, isso, se quero ter um futuro aos olhos desse mundo hipócrita. E ainda tenho que suportar as notícias que me são inseridas, a força, dizendo-me que uma parcela de pessoas cujas são minoria na sociedade, protestam buscando uma “tal de igualdade”, e sentindo-se especiais,  necessariamente, precisam ser elevadas ao topo do mundo sem a necessidade de se esforçarem como a maioria, ainda que estejam cientes que vivemos um mundo competitivo e cruel. Isso é ultrajante! Ora, se queres vencer na vida e almejas igualdade, lute. Caso não tenha talento, conforme-se com a mediocridade. É uma equação muito simples: sem talento, com um pouco de esforço, se chega até o rio, sente o quão refrescante seria mergulhar, porém, jamais mergulha, pois coitado, não sabe nadar. Mas também, se todos tivessem talento, ninguém se sobressairia aos demais, assim, seriamos todos medíocres. 

O quão eu agradeço o fato da condição natural do homem ser a ignorância, pois na pior das hipóteses, posso me vangloriar que sou um ignorante medíocre como tantos e, mesmo assim, compreendo a vida muito além da maioria que vivem com os pés no céu, no inferno ou em contos de fadas, tanto faz, buscando a verdade no espírito santo, enquanto ela se encontra no palpável, bem a frente de nossos olhos.

Eu, como detentor da verdade absoluta, sou muito intenso, mas como sou ninguém, me foi tirado o direito de sê-lo. Portanto, tenho que lutar uma guerra que não é minha e que me rouba todas as forças e o direito de ser feliz. 
O que eu queria mesmo era me debruçar na leitura e escrever para meu próprio contentamento feito um louco. Um louco solteirão que gasta todas as suas energias alimentando um rebanho de cabras incansavelmente que, no entanto, jamais as ordenha para apreciar o leite, ou abate uma ou outra para o desfrute da carne, pois lhe é agradável apenas o cuidado constante com aqueles animais cheios de vida. Porém, se caso uma de suas cabras se perde enquanto pasta nas montanhas, ele é capaz de se desfazer de todas as outras para recuperar aquela que se perdeu. Minha intensidade poderia ser traduzida nessas palavras. Vai entender...

Eu, como detentor da verdade absoluta, sou arrogante, pois me cansa a mediocridade; aquela incapacidade que as pessoas ao meu redor têm de discutir por mais de um segundo sobre assuntos inteligentes. Essas mentes pequenas que se acham as últimas bolachas do pacote, com suas vidas cheias de vida. Bem sei eu que reflexão e vida, são duas coisas bem antagônicas e que jamais caminham junto, mas não custa nada deixar de viver um pouco e parar pra pensar de vez em quando. No entanto, seria ser humano demais e ninguém suporta isso. 

Eu, como detentor da verdade absoluta, sinto-me sozinho, pois os homens nasceram para buscar viver nas nuvens, já que não aceitam o fato que o seu único objetivo é perpetuar a espécie e que de especial eles não têm nada. Deste modo, sinto-me um estranho, insuportável, afasto as pessoas como um Alien que caiu neste planeta e ninguém o compreende. 

Esse artigo vai provar que ninguém entende, pois toda humanidade é burra, não toda unanimidade, como diz Chaplin.  Mundo repleto de mentes pequenas. Trágico. 

"O sábio busca caminhar nas nuvens, pois lhe é agradável sair da realidade de vez em quando, mas isso não significa uma fuga, muito pelo o contrário, é uma forma de viver a realidade com graça. Já o tolo, debruça-se sobre o surreal o tornando real e, com isso,  passa a viver com medo da realidade que acreditou ou que lhe fora imposta por outros tolos." 

João da Bodega