Esse poema tem apenas dez palavras,  ao final pode lê-las. Elas, por hipótese alguma,
dizem tudo,  dizem apenas.  
Quando um poema me disse
Diz-me  poema;
Diz-me, como um raio de sol que se esconde em nuvens
escuras.
Diz-me, em silêncio, a beleza daquele brilho;
Daquele anjo desequilíbrio.
Diz-me poema! 
Esbraveje feito um louco!
 Eu só queria dizer, que tudo que eu sempre quis,
Foi ser alguém que um dia disse.
Agora me diz poema. 
Diz-me, por mais que soa:
Escuto-te, diz...! 
Sussurrou:
- Fiquei guardado em ti, tanto,
Condensaste-me como  nuvem de cores brandas, 
Essas que cabem nas lágrimas de quem ver;
no sorriso de quem anseia qualquer coisa que não sabe, 
mas é arte e quase tudo vale. 
Anda! Diz-me poema:
Balbuciou ele, assim, soberbo,
como se dissesse palavras divinas: 
- No final, escondem-se os cotovelos
ao mesmo tempo em que se arregaçam as mangas.
Aí, se descobre que pouco valeu;
que  viver  é correr para um  abismo que não se espera,  
mas que sempre foi certeza.
Diz-me!  
Ainda há de haver mais..., esperei tanto. 
Então, diz-me poema, diz-me, que eu não sei dizer! 
- Cante- disse ele! 
- Que belo conselho- pensei. 
Mas dizes-me, tu há de ter ainda o que dizer, 
Que eu, coitado, não sei dizer! 
Então, o ouvi ao mesmo tempo em que sentia Bach:  
- As notas sempre
estiveram aí, soltas, pairando no ar; junte-as.   
Samuel Ivani
 
