Aos doze anos, ela fora violentada por seu primo enquanto buscava lenha
no matagal próximo a sua casa. Isso se repetiu várias vezes. Até que,
depois de um tempo, mesmo sem a pretensão de catar qualquer coisa, ela
passou a se direcionar quase que diariamente para o arbusto frondoso e
verde, aquele no qual seu primo, por inúmeras vezes, a obrigara se
despir e ficar em silêncio. Eis que, naquela ânsia humana, ela
engravidara. Ela não era bela, ele também não. Não tinham recursos, não
estudavam. Viviam ambos na mesma condição social. Eis que, perceberam
que o que tinham mesmo era um ao outro. O rapaz magro, castigado do sol,
construiu uma casinha no fundo do quintal de seus pais, com tijolos que
ele mesmo confeccionara com argila. Passaram a morar juntos. Depois
de um tempo, a mulher, conscientemente, resolveu pintar as unhas com um
esmalte rosa. Já tinha três filhos, cujos lhe renderam marcas
irreversíveis no corpo, isso adicionando as das pancadas que o marido
sempre lhe agraciava todos os dias. Ela vendo a sua vida monótona, em
que nem mesmo a brutalidade do marido lhe dava folga um dia que fosse,
resolveu passar um esmalte rosa nas mãos sujas para agradar o
companheiro e ser feliz. O marido, ao chegar em casa, transbordando de
boas doses de pinga, vendo o rosa nos pés pretos da mulher indignou-se
e, violentamente, os colocou sobre um velho tamborete que tinham e,
irracionalmente, passou a cortar os dedos da companheira, um por um,
enquanto ela dizia que o amava mais que tudo.
Conto de 500 caracteres