quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Apoteose




Eu vim de algum lugar onde as flores nascem e
o sol brilha na direção dos olhos de quem ama.
Eu vim da árvore que foi desenhada um coração com as iniciais dos nomes de um casal apaixonado; do travesseiro que amortece as lágrimas de uma adolescente inconsolada.
Eu surgi da saudade de um pai que viu o filho partir.
Eu sou a ardente chama nos olhos loucos de amor de uma dama da esquina.
Eu vim do aperto de mão com vontade que fosse abraço.
Eu ressurgi da verdade no olhar de uma mãe vislumbrando o filho.
Eu vim da distância superada por uma mensagem de voz.
Eu nasci da vontade de voar, de me teletransportar pra estar aí.
Eu sou a corrida pra um último beijo antes de partir, a solidão antes de se decidir.
Eu sou o espaço entre a coragem de se declarar e o medo de se decepcionar.
A última chama de um jantar a luz de velas.
O lençol de cetim que envolve o corpo nu de uma donzela.
Eu vim de um sonho de guerra de um soldado ferido em que sou a bala atirada contra o peito de um sentinela.
Eu sou a rosa nos olhos dela.
Eu sou a saudade de um cartão postal chegado de surpresa, o primeiro encontro depois de janeiro.
Eu vim do início, do primeiro toque na certeza de que seria pra sempre; daquele sorriso bobo de quem sabe que não tem mais volta.
Eu vim da estrada que leva um andarilho para encontrar a si mesmo.
Eu vim dos passos descalços de uma criança que nada deseja.
Eu só não sei ainda para onde vou, nem o que serei, afinal, eu sou o mistério por trás do propósito em ser gente e nada sei...

















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