domingo, 25 de junho de 2017

Destino


Um jovem comum, de pele comum, seguindo a ordem que a vida o destinou, encontraria em um dia comum, uma moça linda de 14 anos com quem iniciaria um namoro sem rédeas. 
Depois de dois meses, impulsionados pelos hormônios típicos da adolescência, a moça engravidaria. Então, sem opções, ele seria obrigado a largar os estudos pra trabalhar fosse no que fosse pra ao menos fingir que poderia sustentar o filho e a garota. Depois de um tempo, conseguiria levantar o que poderia se chamar de moradia de dois cômodos nos fundos do terreno dos pais da companheira, e lá viveram até que, os 16 anos, a natureza os agraciaria com mais um filho. 

Mais tarde, ele perceberia a grande bosta que a vida havia se tornado. O quanto tudo aquilo não fazia sentido. O quanto ainda era jovem e poderia está aproveitando mais a vida.   Então, munido destas convicções, vendo que não era justo que a única diversão da sua vida fosse dez minutos de fornicamento diários com uma garota com os couros do bucho mole devido os dois filhos que tivera, entrega-se ao álcool em demasia como uma forma de fazer justiça em relação à vida. 

Aos sábados, invariavelmente, como que numa promessa, depois de trabalhar a semana inteira na lavoura e de ter economizado, a duras penas, todo o dinheiro da semana, ele sairia com a desculpa que iria comprar o jantar no intuito  de passar naquele bar ridículo onde trabalha uma puta aposentada por tempo de contribuição, mas que não conseguiu largar completamente o ramo. Mais de sessenta anos e ela ainda tinha cheiro de puta e ainda ostentava aquele trejeito natural pra arrancar até o último centavo dos poucos que ainda cometiam o erro de parar em seu estabelecimento. 

Pensava ele que talvez pudesse ir ao um cabaré de qualidade, porém, sabia que o dinheiro era pouco. Poderia ir algum lugar que não tivesse putas e, sim, ninfetinhas da sua idade, no entanto, sempre que ele se olhava no espelho, via o quanto às longas jornadas de trabalho diário haviam o tornado ridículo; magro, com a pela massacrada pelo sol, olhos fundos; ele era o perfeito retrato de um caboclo de quarenta anos. Então via que o único local que poderia ser tratado como gente era naquele bar ridículo.  Como ele era o único cliente da puta aposentada, ao menos lá,   o álcool e as carícias das mãos ásperas da velha dama da noite faziam-o sentir-se importante.       

E em um desses sábados, depois de gastar todo o dinheiro, e não mais receber  o mesmo tratamento naquele digno estabelecimento, ele se dirige pra casa sem conseguir nada além de torrar o suado fruto do seu trabalho. Alcoolizado, ele sentia que tudo aquilo fora um grande erro, que deveria mesmo era ter comprado o jantar, pois também sentia fome. Ao chegar a sua casa, ao ver a garota que pensou que ia ter sempre a pele lisa, os couros firmes, sentada na velha cadeira com os peitos caídos tentando amamentar o filho mais jovem enquanto o mais velho pergunta pelo jantar, ele sentiu um profundo ódio de si mesmo. A sua pobre e calejada esposa, cansada daquela rotina toda semana, apenas o fita com um olhar de desprezo. Ele não aceita aquele olhar. Ele queria que ela gritasse, que o colocasse no seu devido lugar porque ele era um merda. Ele tinha consciência que merecia sim, uma surra, mas quem seria capaz de dar essa surra nele? 

Irritado com toda aquela falta de ação da pobre moça, sem dizer uma palavra, ele chega até as poucas panelas sobre o velho banco improvisado como uma prateleira para os poucos alumínios que tinham e o vira contra a parede provocando um estouro enorme. Aquela violência desencadeou o choro dos dois filhos e da sua companheira. A pobre moça, sem opções, apenas pedia pelo amor de Deus que ele se acalmasse. O jovem então, enojado mais ainda a atitude da esposa sem sentido e vendo o quanto estava fazendo sofrer sua companheira e seus filhos, sente que merecia morrer. Mesmo assim, sua companheira, pobre coitada,  pra proteger a vida e  sua prole, enquanto chorava, dizia que o amava e que não se importava com as suas bebedeiras. O jovem, cada vez mais se sentindo um lixo por aquelas palavras que não merecia, disparou uma bofetada contra o rosto da esposa.  E sentindo-se indigno de viver, percebendo que aquilo não acabaria bem, saiu de casa com a certeza que se ficasse, mataria alguém pelo simples fato de que ele era quem merecia morrer.  

Naquela noite ele dormiu ao relento, como de fato merecia e retornou na manhã seguinte como se nada tivesse acontecido. O velho banco já se encontrava no lugar de sempre, o olho da sua companheira se encontrava roxo, mas demonstrando querer esquecer, ela sorria enquanto preparava o café preto para ser bebido em mais um dia como qualquer outro. Ele toma o café churro, sente-se fraco, mas para não demonstrar, sai novamente pra mais um dia comum de domingo em que retornaria bêbado pra casa. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário