quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Inside




Quando me voltei para dentro de mim,
vi  tudo tão vazio; uma escuridão de dar dó.
Dentro de mim, havia uma estrada deserta,
Uma linha amarela, e urubus e águias ao redor.
Queriam, talvez, minha pele, que já morta,
 Serviria de almoço,  para as aves que tanto alimentei.
Era tudo tão diferente do que pensei!
Assustei-me de início,
É tão natural...

Dentro de mim havia dores,
Tantas quantas... Nem contei.
Havia de todas as tribos, as mazelas,
De todos os homens, as aspirações.
De onde vieram, não sei.
Não bastaria as minhas?
Tinha que sentir as dores do mundo?


Havia também, canções,
Doces, suaves, trilha sonora da escuridão.
Surpreendi-me, pois nem tudo eram dores.

Quando me voltei para dentro de mim
vi, uma longa linha de tempo,
Fina, opaca,  quase toda utilizada,
Num tecer burro do “nada”.  
Maus tecelões, 
os curiós que em mim trabalham.
Não tecem rios,
Flores, jardins.
Queria tanto um jardim  com flores violetas 
que me regasse de beleza
Cada manhã escura que há em mim.
Mas eles não tecem.
Oh! Curió! 
Prefiro as águias,
Que ao menos espero delas, pouco ou quase nada.
De ti queria flores,
E tu teces uma linha amarela na estrada.
Quão inútil és!
Quão inútil sou!

As codornas e perdizes em mim,
Deveriam me divertir em longas caçadas,
 Porém, em vez disso, me caçam.
E eu, como uma cutia acuada,
Sempre sou devorado.
Quando me voltei para dentro de mim
Havia um beija flor que dançava balé,
Quão linda era.
Porém,
Os urubus a devoraram num piscar de olhos.
Que mundo cruel esse que vivo!

Quando me voltei para dentro de mim
Tinha perdido a beleza que um dia achei que tinha.   
Era tudo tão sombrio
Era tudo tão natural,
Eu que de fora não via.  
Mas compreendi a escuridão,
e isso me foi suficiente para "ser". 

Samuel Ivani