sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Vídeo: texto o menino da corte

O MENINO DA CORTE




A quem ver! Não ver. Se ver. Não atenta:
um garotinho sujo, descalço, a esperar atento, migalhas da mesa
que caem salivadas dos reis e madames enfeitadas;   
esmeraldas, rubis e mais rubis e corações vermelhos.
O garoto faminto, logo à cima dele, à mesa; risos e
carnes nas barbas dos reis e no colo das enfeitadas.
Há sujeira aqui em baixo; pouco importa a fome não ver.
Gargalhadas, pisadas, gritos, o que haveria logo acima?
O garoto, a fome, os olhos, as vazias entranhas desejam ver.
O Invisível garoto levanta e ver o bobo de pernas pra cima,
como em uma rinha.  
Todos riem do bobo desajeitado.
Bobo da corte. Seria mesmo ele bobo?
O bobo, todos veem! 
Mas a maquiagem, as vestes estranhas...
Na verdade ninguém o ver!
Haveria por trás das vestes um sujo menino?
Todos riem do bobo e lambuzam suas barbas de gordura.
No bobo da corte um sorriso.
Seria dele aquele sorriso ou obra da maquiagem que força as alegrias?
Seria o bobo apenas um quadro em uma moldura?
Quadro sem vida, vida tinha quem o pintou.
Quem pinta o bobo? Não seria o próprio bobo?
O menino ainda faminto olha o bobo e não vê graça.
A fome não deixa seus risos fluírem.
Mas os reis, os reis e madames,
Esses sim, enchem-se de leitões, vinhos e risos.
O bobo menino, o menino bobo, não se sabe,
Levanta-se e agarra uma coxa suculenta.
Agora quem rir do bobo, do bobo menino?
Ninguém! Desse bobo que come. Ninguém! 
O bobo da corte (bom seria se fosse à corte do bobo) 
Estraçalha ferozmente a coxa e seu pescoço.
Os reis e madames assustados murmuram: "que graça há neste tolo?"
O menino sujo e faminto fora levado à forca.
Sem maquiagem não era o bobo.
Todos riam, não do bobo da corte, mas do menino faminto e tolo.
As madames e reis todos maquiados e enfeitados para
presenciar o último riso proporcionado, por aquele que,
antes bobo da corte, agora menino bobo. 

Que forca? Que tortura? A forca seria o fim!
Mas para aquele bobo menino não sobrava ar,
então, melhor seria não respirar. 

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