sexta-feira, 21 de julho de 2017

Paraíso



Mas que lugarzinho mais sem charme, hein!
Onde é que esconderam a poesia daqui?
Em que calabouços acorrentaram os sentimentos nobres?
Onde incineraram a arte, a honra, a embriaguez de saudade?
As pessoas aqui bebem sem sabedoria,
se amam sem vontade, casam-se por ironia,
se acorrentam fartos da liberdade,
vivem de respirar e morrem de vontade...
Mas que lugarzinho, hein!
Ninguém aprecia Strauss, nunca ouviram falar de Neruda.
Vagueiam uns enovelando-se nos outros sem se entenderem,
Embora todos carreguem a sabedoria dos frades, do Papa, e até de Buda.  
E os pecadores, onde os deixaram?
As vezes penso que já me encontro no paraíso,
Pois todos são santos "batendo com a bengala da moral na cabeça do vizinho
mas nunca em si mesmos."
Todos reconhecem as próprias chagas, mas  só apontam as feridas alheias.
E amor? Em que calabouço sujo e imundo o abandonaram?
Até parece que aqui, ninguém ama,
Tampouco confiam no amor do próximo.
São cobras engolindo cobras; lambendo-se e se mordendo
a fim de não perderam o espaço miserável  do qual estão destinados.
Hei de procurar o amor nas terras onde ele deve repousar a minha espera.
Aqui, só desprezo, incompreensão e dedos apontando os meus defeitos e
ignorando minhas qualidades, se é que possuo alguma.
Hei de encontrar o amor ao virar uma esquina charmosa
de uma rua estreita, cheia de casas no estilo colonial.
Não aqui, nesse lugar sem curvas em que todos são retos aos olhos de Deus.
Aqui não me sobra espaço.
Mas onde será que é o meu lugar?
Onde será que se esconde o meu mundo de gente?
Mas que lugarzinho foram me nascer, meu Deus!


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