terça-feira, 4 de julho de 2017

Nesse novo mundo líquido, as pessoas estão perdendo a capacidade de esperar


Nesse novo mundo tecnológico em que as informações nos são inseridas sem medidas o tempo todo, há uma exigência que as pessoas também sejam uma fonte infinita de conteúdo. Há uma exigência que sejamos interessantes, que sempre estejamos felizes e dispostos; que mantenhamos sempre aquele sorriso que se captura e o eterniza em uma foto. Daí nessa exigência por sermos interessantes pra concorrermos com a imagem que as pessoas passam nas redes sociais no plano real, acabamos por nos frustarmos devido sermos apenas mais um jovem latino americano sem dinheiro no banco. 

Quando conhecemos alguém, nessa obrigação burra, nos desaguamos de uma vez só pra pessoa, de modo que em dois três dias, talvez menos, começamos a nos repetir: repetir as piadas, os atos, os sonhos, os assuntos - e aí, nos tornamos chatos, desinteressantes. Sem contar que boa parte de quem somos o outro já conhece por meio das redes sociais, logo, o mistério, aquele ponto crucial pra que uma pessoa seja cativante passa a não existir e então, não conseguimos manter relações, ao menos não na mesma intensidade do início. Ao ponto de que em pouco tempo, vai se acabando o assunto, o interesse; não se tem mais ideia de como iniciar uma conversa. 

Até mesmo a saudade tornou-se obsoleta, pois as pessoas sempre estão há um clique de distância, de modo que o espaço pra saudade desapareceu. E como ainda existe aquela necessidade de estar perto o tempo todo das pessoas que pensamos que amamos, e podendo contatá-las com um toque na tela do celular, você exige demais da pessoa; que responda a pronto e a hora suas mensagens sem importância, que curta suas fotos, que corresponda a seus status e etc. E mais, nessa exigência exagerada, os passos das relações não seguem aquela calma orgânica; eles dão saltos, afinal, se preciso ser interessante o tempo todo, é preciso evoluir rapidamente. 
Ou seguimos as mudanças do mundo líquido em constante alteração, ou nos tornamos obsoletos. 

Porém, ao passo que não nos permitimos sentir saudades dos outros, sentimos saudade do nosso passado cada vez mais cedo. Nos tempos de nossos avós, o passado só se tornava de fato passado depois de vinte ou trinta anos. Nesse novo mundo liquido, segundo denominou Zygmunt Bauman, depois de seis meses, um ano, já sentimos que vivemos trinta quarenta anos. Prova disso é que quando verificamos nossas fotos e nossos status nas redes sociais de um ano atrás, ficamos horrorizados com tamanha mudança que sofremos, tanto física, quanto mental. Isso ocorre por conta que, com esse novo tempo das tecnologias, cujo temos tudo a tempo e a hora, nossa mente, mesmo que inconsciente, se adapta as essas mudanças rápidas e pensamos que o tempo passou em demasia. Só que concomitante a isso, temos o tempo biológico que corre bem mais devagar. Essa é a maior causa dos transtornos de ansiedade do mundo contemporâneo, pois queremos que o nosso tempo siga o tempo das tecnologias e desejamos, ou melhor, exigimos, que as mudanças no nosso plano real aconteçam num clique, como quando buscamos alguma informação na internet, caso contrário a vida não pode ser suportada. 

As crianças de hoje em dia não sabem esperar, não compreendem o tempo biológico, só conhecem o tempo tecnológico, e isso, gera transtornos de ansiedade seríssimos.
 É preciso um olhar mais atento pra esse problema do nosso século.

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