Aos oito anos, acordaram entre si
que se casariam tão logo completassem vinte anos. "Bem, dezoito, na verdade. Se
possível, com dezesseis seria uma idade mais razoável". Ora, esperar doze, dez
anos, não seria viável, mas oito, era um tempo relativamente curto. Encantados,
não atentavam para a matemática e não se importavam com o fato de que teriam
que viver exatos mais uma vida até a data de se unirem pra sempre.
Enamorados, trocavam bilhetes,
regalos, sorrisos... Era como se aquele amor inocente fosse durar pra sempre. Tinha
a escola que os juntava por quatro horas diariamente. Durante as tardes, se
viam às três pra um refrigerante na casa de um ou de outro. Nos finais de
semana iam à igreja e por assim iam...
Até para os pais de ambos, parecia mesmo que iriam permanecer juntos pra
sempre. Já tinham chegado ao ponto até
de adquirir certa semelhança física um
com o outro, tamanha era convivência. O que mais se ouvia na cidade era que
eles formavam um casal perfeito.
À medida que o tempo ia passando,
como era de se esperar, a menina se
desenvolvia mais rápido. Aos dez anos, todos já a chamavam de mocinha. Ele, no
entanto, permanecia com as mesmas feições de quando tinha oito anos. Ela completou onze, doze, lhe surgiram curvas
de mulher, seios, e ele, coitado, com exceção de uns centímetros na estatura,
não havia mudado em nada. Então, no processo de desenvolvimento, aos poucos eles foram naturalmente se afastando, ao ponto de sem
conversar sem nada, não andarem mais juntos, pois ela não queria ser vista com uma criança. E ele entendeu isso
depois de ser ignorado e humilhado umas cento e oitenta e três vezes, no mínimo.
Ainda sim, quanto mais ela crescia, mas o pobre menino
morria de amores. Ele foi obrigado acompanhar, embora de longe, os rapazes mais
velhos assoviarem, elogiarem, tocarem e beijarem a sua amada sem poder mover um
dedo. Era de matar.
Mas como o tempo não para, aos
catorze anos, o garoto deu aquela esticada típica de todo adolescente. Mas não
ganhou corpo, era somente um adolescente espinhento de pernas finas e
alto. E como era de se esperar, se antes
ela não queria andar com uma criança, com um moleque feio que todas as meninas
tiravam sarro, era que não seria possível, de modo que não havia esperanças de retomarem pelo menos a amizade da infância, quanto mais um namoro.
Aos dezesseis, eles ainda se viam, mas sempre que se esbarravam, sentiam qualquer coisa embaraçosa, pois se lembravam da promessa feita enquanto criança. Ainda mais aquele ano que seria o ano do casamento. Mas ela havia se tornado uma linda mulher, cobiçada por toda a cidade, não iria nunca mais olhar pra ele. E nesta de achar que tinha o mundo masculino aos seus pés, ela foi se dando ao mundo como quem se joga em um lago sem espinhos.
Aos dezesseis, eles ainda se viam, mas sempre que se esbarravam, sentiam qualquer coisa embaraçosa, pois se lembravam da promessa feita enquanto criança. Ainda mais aquele ano que seria o ano do casamento. Mas ela havia se tornado uma linda mulher, cobiçada por toda a cidade, não iria nunca mais olhar pra ele. E nesta de achar que tinha o mundo masculino aos seus pés, ela foi se dando ao mundo como quem se joga em um lago sem espinhos.
Aos dezoito, o adolescente
magricelo, aquela altura mais arrumado, foi pra faculdade. A moça bonita de quadris largos e seios
fartos, no entanto, por ser muito cobiçada, não lhe faltava convites pra
festas, casas de praias e tantos outros lugares mais divertidos que a faculdade, logo, seguiram cada um pro seu lado.
O tempo foi passando, atingiram
os vinte e cinco, vinte e seis, ele
ainda se lembrava dela uma vez ou outra, talvez até ainda resguardasse alguma
centelha daquele amor da infância e adolescência, mas era coisa do passado,
amor que dá e passa; sentimento passageiro que ele sentia de segundo em segundo.
Aos 32, ele professor universitário, solteiro, na sua melhor forma, não tinha interesse em se amarrar a ninguém. Parecia que aquele amor do passado iria mantê-lo sozinho pra sempre. Até que um dia, ao retornar a sua cidade natal, ele resolveu saber do paradeiro daquela que foi o seu amor a vida toda. E certo que a encontrou facilmente na varanda da sua antiga casa numa tarde de sexta. Ao vê-la de longe ele sentiu uma raiva estranha. Escondeu-se, passou a observa-la: ela ainda mantinha certas características do passado, embora adicionado uns bons quilos aquele corpão de quando tinha vinte anos, na verdade só os olhos eram os mesmos. Então, antes que ela o visse, ele deu meia volta e foi-se embora contente em ser testemunha das voltas que o mundo dá.