quinta-feira, 23 de novembro de 2017

O GRANDE HOMEM SEM QUALIDADE





Aquele homem sem qualidades seguia rumo ao horizonte do tempo sem conquistar absolutamente nada. Ao que parecia, ele era inútil como botões na era do touch screen. Porém ele tinha como certo que possuía grandes habilidades. Habilidades estas suprimidas pela normalidade da vida e que somente seriam externadas em situações de exceção; uma guerra, uma grande ditadura, enfim, qualquer coisa de extraordinária pra que ele se tornasse aquilo que interiormente sentia que estava pré-destinado. Enquanto isto, ele não movia uma palha de um lugar para outro, pois suas mãos supremas, sagradas, não poderiam ser utilizadas em afazeres comuns, em empregos normais; não seria ele que se enveredaria no curso da vida comum, não, carregando a certeza que possuía talento pra maioria das coisas.

Baseando-se sabe-se lá em quê, talvez na esquizofrenia, ele sentia que possuía dentre outras, as características de Napoleão, de Alexandre O grande, logo, poderia sim, se tornar um grande líder e conquistar grandes territórios. Mas aquelas competências seriam desperdiçadas se ele se utilizasse delas na sua vida pacata e comum, então as resguardava só para si.
Talvez se ele se perdesse numa floresta com um grupo de colegas, sem comunicação, sem alimento, seu espírito de liderança e de sobrevivência em situações adversas afloraria, assim sua jornada de sucesso e glória teria início, mas algo assim não aconteceria assim facilmente.

Ou, pensando no possível, talvez se um presidente louco, ou mesmo tão esquizofrênico quanto ele, cheio de bordões, discursos extremos e intolerância, assumisse a presidência do país e liberasse o porte de armas, diminuindo preços e a burocracia para que o cidadão comum pudesse possuir diversas armas facilmente, aliando isto a seus discursos intolerantes, uma guerra civil vagarosamente se iniciasse, uma vez que o Brasil não possui maturidade cidadã nem estrutura como os Estados Unidos para o extremismo. Se isto ocorresse, seria o momento do seu espírito revolucionário entrar em ação e tentar mudar o curso das coisas ou morrer lutando.

Por alguma razão ele sentia que possuía mesmo a honra de um grande soldado, daqueles que prefere morrer em batalha do que levar uma vida comum. Mas na sua vidinha de interior, o máximo que acontecia era levantes de formigas contra escorpiões no quintal de casa. Como ele iria se tornar grande levando uma vidinha de fascista disfarçado no sofá de casa? Como ele iria liberá sua selvageria? Como ele iria ser visto, senão houvesse lutas entre seus iguais de modo que ele pudesse se utilizar de sua habilidade verbal pra que todos se convencessem de que o que desejam é o que realmente precisam?
Aquele homem aparentemente sem qualidades estava mesmo destinado a não ser nada.

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