Atendendo as críticas pra colocar o meu Ceará nos meus textos, resolvi escrever este, totalmente em Cearês. Infelizmente, talvez somente os cearenses compreendam, mas somos muitos e podemos voar.
Odete terre o primeiro filho com dezesseis anos. Aos
dezenorre, mãe solteira, morando sozinha
com o curimim, sofria mais que surraco de aleijado. Trabaiarra de sol a sol na
padaria da esquina pra alimentar o filho, pagar o aluguel e a prestação do
celular, celular este que mais parecia um tijolo de tão grande, de modo que não sobrarra
tempo nem dinheiro pra ela se dirrertir, (embora ela desse seu reito) muito menos pra cuidar do moleque, que passarra mais tempo
na carra da ró do que com ela. Emprego melhor ela não podia arrumar, porque não
tinha terminado nem o ensino fundamental dirrido a grarridez. Ela até sonharra
em terminar os estudos, pelo menos o ensino médio, mas não tinha tempo pra nada,
coitada, nem de farrer academia pra perder o bucho que adquirira graças as
bolacha fofa que ela comia no trabalho. - Trabalho não, escrarridão - esbravejarra Odete pra deus e o mundo aquela frase
que mais parecia um refrão de forró na boca dela. Só não reclamarra pra patroa, - “porque ruim
com o emprego, pior sem ele.”.
A rotina dela era tirar em tiriço
de sete as sete na padaria, depois que saia do emprego, passarra na carra da
mãe pra pegar o filho. Ao chegar à kitnet que morarra, tomarra um banho chula, farria a janta; um
arroz com mortadela, quando muito um pedaço de carne que a mãe lhe darra quando
tirarra o bolsa família e ia dormir. Isso, quando o menino deixarra, porque não
era todo dia que ele tarra no dia bom não. O pai do menino, que era quem podia dirridir a
responsabilidade com os cuidados da criança, sumiu imediatamente soube da grarridez.
Era um operário de uma firma de energia eólica que trabalhou um tempo nos arredores da cidade, possirrimente casado.
“Eu derria ter desconfiado que
ele era casado! Quem já se riu alguém não ter Facebook hoje em dia?” Odete não
se perdoarra por não ter se dado conta daquele
fato há tempo de impedir a bobagem de emprenhar. Isso na cabeça dela, porque todos
na cidade tinham certeza que mermo se
ela soubesse que ele tinha um arem e dez
penca de filho, o destino de Odete teria sido o mermo. “Senão com ele, com
outro... que mulher que nasceu pra não prestar, não tem home que desrrie ela do
seu destino.” Dizia às rizinhas que não tinha nada o que fazer, senão,
bisbilhotar a rida dos zoto.
Nas sextas e nos sábados, mermo
cansada, ela não perdia uma seresta, um karaokê, fosse onde fosse, - e só
roltarra altas horas da madrugada e sempre acompanhada. Já deixarra o menino
com a ró, rustamente pra não ter perigo de roltar pra casa só. “Ora, eu trabalho feito uma condenada, e num
tenho direito uma dirreçãozinha sequer? Eu mereço!” Dizia ela pras poucas
amigas que tinha. E todo sábado e domingo, Odete ia trabalhar
ainda sob o efeito da cerrejinha, da ypióca, e até dum brawzim de rez em
quando. “Num mata não! Só pra abrir o apetite.” Dizia ela aos risos. Mas
acostumada à rotina, tirarra de letra e ninguém percebia se ela tarra alterada
ou não durante o sirriço.
Depois de um ano e meio naquela
rotina, numa sexta igual às outras, Odete se impiriquitando pra ir pra seresta
na churrascaria da rua de cima, lhe ocorreu à iluminação. Enquanto refletia
sobre os quinze reais que pouparia do moto táxi pra chegar à seresta uma vez
que era na rua de cima, feliz porque sobraria mais dinheiro pra bebida com as amigas,
ela se aluiu o quanto harria sido burra até aquela altura da rida. Odete era
tinhosa, num aceitarra que home nenhum lhe pagasse bebida, que ela gostarra de
poder escolher quem ia lerrar ela pra carra no final da festa, então não queria
dírrida com ninguém. Mar ali, diante do espelho, deu uma olhada no seu corpo,
notou-o ainda rígido, um pouco roliço, tá certo, mar ainda tudo em cima. “Oxe,
ela só tinha "dezenorre anos"(rinte ela ia completar só próximo dos trinta)e não era de se rogar fora não.” Ocorreu-lhe que ela
tarra era disperdiçando aquele corpão, aqueles zoião, aquela bocona embatonzada
com aquele orgulho bobo. Tomou uma decisão firme naquela hora, que ia ganhar
era dinheiro, que aquela rida de trabalho escrarro num era com ela não. “Uma mulher
bonita que nem eu tem que andar que nem
uma princesa, igual aquelas dos clipe do Safadão... Postar foto no Instagram nos barco e
tudo, com aquelas bebidas cuns guarda
churrinha no copo, só charlando pras inimiga morrer de inrreja”. Odete ria
enquanto se enchia de planos.
Mais sagaz que coceira de cansanção,
Odete resolveu colocar seu plano em prática. Na seresta, aceitou bebida do cara
mais bem aparentado; um de meia idade, perto de um Corsa verde escuro com um sonsão piscando
aquelas luz colorida e o controle feito um cordão no pescoço só passando as
músicas... Faceiro não, o cão! E tome cerreja e ypióca pros pingunços que
passarram por ali... E o tempo foi passando. Odete sendo tomada pelo álcool. O
dinheiro do play indo pro saco. Na hora de
ir embora, ela não contou pipoca e
mandou na lata: “posso até ir embora
contigo, mas só por cem conto - e é dinheirim na frente”. O cara olhou assim
meio doido, rerificou a carteira, só restarra sententa conto, embora com um pouco
de rairra, ofereceu os setenta. Odete, como era o primeiro, aceitou sem piscar.
Ela ia dá pra ele de graça mermo caso ele não quisesse pagar, então foda-se,
pensou ela. E foi! E que noite hein!?
Odete acostumada aquelas noites
de amor toda sexta e sábado, quase sempre com pessoas diferentes, sem ganhar
nada, além de um prazer que quase sempre esquecia depois dirrido o nirre de álcool, se riu seis da manhã com setenta reais, o dinheiro
que ganhou mais fácil na sua rida miserárre. Na padaria ela demorarra três dias
pra ganhar aquela quantia, de modo que reçaquiada, com setenta reais tinino na
mão, ela pensou: “é o cão que rai mais praquele cirriço do demo. A égua daquela
patroa que vá se fuder trabalhando sozinha. Mão de raca do cão aquela rapariga!”
E não foi mermo. Dormiu até meio
dia, depois foi buscar o filho na casa da ró, lerrou na lanchonete, pediu um
prato de carne e uns salgados pro filho, que ela não ia farrer almoço uma rez que tinha dinheiro pra comer fora. A
alegria que Odete sentiu naquele gesto rei simples de comer num restaurante com
o dinheiro dela, era sem medida. Gastou a metade, mas se sentiu satisfeita, “que
o dinheiro era dela, tarra sobrando, ela gastarra com o que bem queria”.
E chegada à noite, foi como de
costume deixar o filho na carra da mãe, se impiriquitou de novo - e tacou pra
seresta. Como era mais longe que a da noite anterior, foram-se dez reais de
moto táxi, mar não importarra, ela ia ganhar muito mais, tinha a ferramenta pra
isso. Chegando, comprou uma carteira do melhor cigarro, sentou-se numa mesa, e repetiu
a merma coisa da noite anterior; escolheu a dedo o seu cliente e danou-se a
beber. Por dentro ela pensarra: “eu fui muito besta de ter alimentado essa
porra de orgulho, essa hora rá era pra eu tá rica. Mas sou norra, dá tempo!”. E foi
do reitim que ela imaginou, embora tenha ganhado em vez de cem, cento e ciquenta
conto limpo e seco aquela noite.
Na manhã seguinte, domingo, ela
acordou e notou as cédona de cinquenta e de cem chega brilharra no lado da
cama, e sem macho nenhum perto, o que era a melhor coisa. Pense numa alegria! Ora, ela rá darra de
graça mermo, ganhando então, era o paraíso. Roltou a dormir satisfeita da vida, sem nem lembrar que um dia existiu padaria.
Seis e meia da manhã, o
entregador de pão da padaria bate na porta dela: Odete, tu num rai trabaiá não,
cão? Rumbora que a patroa tá te chamano, mizéra. Ele tratarra ela assim, mar
era carinhoso. Era só reito de falar! Durrido que não tirresse era apaixonado
por ela. Sei que senão fosse ele na padaria, Odete já tinha escranchado as
costa de tanto lerrantar peso.
Odete
lerrantou puta duas vez, escondeu o dinheiro na garreta da cômoda e disse pra
ele entrar. Ele entrou pensando que ia tomar aquele café de sempre, no entanto, arristou Odete de Babydoll preto, toda sexy, sentada no lado da cama. Ele engoliu seco. Odete, percebendo a rergonha dele, disse sem pestanejar: “tu tem quanto ai em
dinheiro Ormar?”.