segunda-feira, 20 de julho de 2015

Dimensões


Edward Hooper


  Sabe aquele livro que te faz perceber que tua história não tem nada de original? Encontrei essas características no maravilhoso livro pergunte ao pó de Jhon Fante:

"Oh Bandini, falando com o reflexo no espelho da penteadeira, quantos sacrifícios você faz por sua arte! Podia ser um capitão de indústria, um comerciante rico, um jogador de beisebol da grande liga, o arremessador líder com uma média de 415; mas não! Aqui está você, arrastando-se ao longo dos dias, um gênio passando fome, fiel à sua sagrada vocação. Que coragem você possui!"


Essa soberba boba, pra quê? Tantos outros já viveram exatamente o que tu vives como sendo único e inimitável.
Essa poesia reflete como me sinto em relação à esse acontecer lento da vida:

DIMENSÕES 

Que injustiça!Meus reis! Que injustiça!
Eu ter essa mente tão ampla, incrustada nesse corpo tão limitado.
Eu, por força, tenho que estar em meio aos sábios,
Ao posso que também é preciso que eu
permeie sempre a roda dos escarnecedores sem inteligência.
Tenho dessas de onipresença mental,
Porém carrego um corpo tão limitado.
Se bem que, de que me serve essa mente tão ampla, se a vida
requer apenas que eu arranje um emprego,
Que me alimente, que compre vestes, sapatos
Que coisas ridículas!
Um homem com a mente que eu tenho,
Tem apenas que se dispor embaixo de uma oliveira e lá,
esperar atingir o nirvana.
Um homem com uma mente tão ampla,
Tem apenas que romper o filme de água na terra seca,
Abrir rolos de papiros nos desertos e,
mentir sobre milagres que viu nas culturas alheias.
Ora, não é esta a receita pra a confecção de um herói?!
Uma mente tão ampla, com o poder de voltar no tempo,
Com a certeza de que consegue voar,
Tem que, quase sempre,
caminhar maltrapilho em público,
sofrendo humilhações de pobres coitados assalariados,
com suas soberbas somadas a minha incapacidade de ser simples.
Eu carrego comigo aquela mania de grandeza tola,
Que me impede de ser pequeno, exatamente como a vida requer.
Que injustiça meus reis! Que injustiça!
A vida requer apenas que eu me reproduza,
Que deixe minha herança pra prosperidade,
Que cerque alqueires e mais alqueires de terras,
Que construa uma cabana,
e que dê aos meus filhos a tarefa de cuidar dos rebanhos.
Mas que posso eu fazer, se as terras de hoje têm tantos donos?!
Salvo os solos férteis que carrego em meus sonhos,
Todos eles sólidos, calibrado em minha mente ampla.
Lá, cada partícula é minha,
Ninguém pode tirá-las de mim!
Só eu que posso dar ao mundo léguas
e léguas de campos floridos,
sob a sentença deles serem infinitos.
Injustiça é, porém, a falta de interesse desse mundo!
Ó! que tempos difíceis meus reis queridos!
Que tempos difíceis...!

Samuel Ivani





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