quinta-feira, 15 de junho de 2017

Mil versões de mim







Já imaginei milhões de versões de mim, milhões de disfarces, roupagens, novas personalidades que eu posso adquirir permanentemente ou por fases, porém, nenhuma delas me agrada tanto quanto quem eu sou hoje.
Já sou a minha melhor versão de mim.
Ora, já me imaginei com um milhão e não seria uma pessoa melhor do que sou hoje.
Já me imaginei famoso e acho que seria arrogante, chato, incompreensível.
Me imaginei uma árvore, mas conclui que não serviria de sombra pra um viajante solitário; minhas folhas não curariam a dor de um coração angustiado; meus galhos finos nem mesmo serviriam de lenha pra lareira de uma senhora e seu gato em um dia de inverno.
Já me imaginei namorando, casado, mas penso que esqueceria datas importantes; até levaria flores no início, mas depois sentiria a necessidade de um novo desafio, uma nova conquista, então fugiria com a ruiva do caixa três da farmácia.
Já me imaginei em idade senil - e descobri que antes disto me mataria.
Já me imaginei com coragem - e descobri que findaria numa caixa de papelão numa rua fétida sem entender a razão da minha existência.
Já me imaginei um herói e talvez até salvasse a mocinha de algum mal feitor, mas quem a salvaria de mim?
Já me imaginei bandido e conclui que seria baleado no peito enquanto ainda planejava o crime.
Já me imaginei um deus, fiquei aterrorizado com a possibilidade, pois era certo que a maioria acreditaria.
Já me imaginei um demônio e descobri que não passaria da desculpa pra selvageria humana que todos carregam.
Já me imaginei uma rosa, mas seria aquela flor posta no buquê na falta de outra mais frondosa.
Eu poderia escrever milhões de páginas sobre todas as versões que imaginei de mim, mas em nenhuma delas eu seria melhor do que quem sou hoje.
Sou a minha melhor versão de mim simplesmente porque tenho milhões de possibilidades de ser quem me der na telha.
Deus me livre do castigo de ser só um.

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