quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Andorinha




De uns tempos pra cá todas as minhas ações tem me parecido ridículas ao extremo.
Tenho magoado as pessoas ao meu redor gratuitamente. 
Tenho, embora a contra gosto, rido de coisas sérias e levado a sério coisas fúteis. 
Já não me sinto interessante ou cativante; 
é como se eu fosse uma maldita piada tantas vezes repetida que já perdi a graça. 
Ando tendo uma dificuldade enorme pra tomar decisões; 
Sinto-me como um beija-flor, que na abundância de flores na primavera, não consegue escolher
uma pra se deliciar com o néctar, e por esta razão, sucumbe sem nunca fazer verão. 
A verdade é que todos os verões se fizeram sem mim. 
Sinto-me estagnado e tão inútil quanto saudade em corações de pedra. 

Até mesmo minha existência física me parece ridícula; 
já não gosto do meu sorriso, dos meus braços, minhas pernas então, tão ridículas que parecem não merecer chegar a lugar algum. 
Minhas palavras então, nem se fala, ou melhor, se fala, mas só bobagens obscenas e sem inteligência que não fazem parte da minha índole verdadeira. 
É como se eu estivesse tentando me reafirmar o tempo todo como alguém comum, que fala coisas comuns, mas nem isso tenho conseguido mais com a mesma destreza de antigamente.
Já não sei amar ou desamar; parece que fiquei preso à um passado que nunca foi passado, porque nunca existiu de fato. 
Sinto-me encarcerado pelos amores dos meus primeiros anos, dos meus primeiros versos - e já não experimento nada de novo faz tanto tempo que parece que o sol não voltou tem anos. 
E confesso que olho para o horizonte, horizonte este que só vai a oito quilômetros de onde habita meu corpo - e não vejo solução aparente: amanhã será igual a ontem e 
o hoje se perdeu no meio do ontem e do amanhã que já nem sabe mais se realmente existiu ou foi só um sonho de uma noite quente. 
Ah, se qualquer coisa acontecesse de modo a mudar isso; ou mesmo que eu pudesse mudar completamente pra que tudo isso fosse diferente a partir de amanhã, mas não será! 
Amanhã o vazio ainda estará aqui e o meu abismo vai continuar se construindo ao redor de mim até o ponto que não vai mais restar pedra que me sustente de pé por mais um dia.


4 comentários:

  1. Eu tb escrevo e seu texto me lembra alguns escritos de uma época da minha vida. Gostei bastante!

    ResponderExcluir
  2. Tão real...parece que fui eu quem escrevi isto!

    ResponderExcluir
  3. Parabéns pelo trabalho,você escreve genuinamente bem

    ResponderExcluir