O grande general
Mal se entendeu por gente, e movido por
aventuras contadas, ouvidas nas ruas, já descobriu o que queria ser da vida. Aquele menino sortudo, não passou por crises existenciais, tão pouco por momentos vazios em
que a maioria fica tentando descobrir que carreira deve seguir, ou que rumo
deve tomar na vida para encontrar a felicidade. Não! Aquele menino tinha
convicção do que queria; queria ser general da mais alta patente. Também pudera, nascera ele em tempos de
guerras. O que não lhe faltaria eram
oportunidades.
Era aquele menino filho de um
oficial do exército, pelo que, não havia assunto em sua casa que não fosse à peleja diária das nações na conquista de
territórios. Desde muito jovem, depois dessas convicções, passou a interessar-se
por tudo relacionado a guerras e batalhas. Passou a Juntar todos os folhetos que
via nas ruas a fim de estar sempre por dentro dos últimos acontecimentos. Colecionava
matérias de jornais. Ficava atento a todos os assuntos dos adultos. Ouvia com
atenção as notícias de batalhas, de territórios conquistados, de perdas
amargadas pelo o império, de estratégias tomadas pelo os generais para avançar
no território inimigo.
Ele ficava emocionado quando um
ou outro narrava às estratégias brilhantes de generais que terminavam em
vitórias esmagadoras sobre os inimigos,
quase sem baixas para o império. Quando alguém narrava os discursos brilhantes dos
generais, quando estes, iam repassar as
ultimas notícias ao imperador, seus olhinhos brilhavam de tanto sonhar.
Tanto ficou ele empolgado com a
ideia, que ao longo de poucos anos, já tinha escrito discursos, desenvolvido
estratégias de como usar a geografia do terreno, as árvores, os rios, as
pontes, como uma vantagem para os batalhões que comandaria. Tinha pensando o
quanto seria duro com os cabos, para que não fosse instalada a indisciplina
sobre seu comando. Tinha escrito
discursos motivadores, de modo que todo o soldado em sua tutela morresse e
matasse em nome do seu imperador com honra. Pensou em diversas conversas
impressionantes que teria com o imperador.
O menino, ao passo que ia crescendo, tanto tornou esse objetivo sua
vida, que desenvolveu sua oratória ao máximo, seu patriotismo, seu amor ao
império e o imperador. Fez da sua vida,
aquele objetivo de torna-se o maior general que seu país já havia visto em toda
a história.
Já muito antes de torna-se
saldado, já tinha o menino, ares de general. Irritava-se ele, quando via
soldados difamando a pátria enquanto se empanturravam de Vodka. Queria discipliná-los
os ordenando juntar dejetos de cavalos nos estábulos para que adquirissem respeito à terra que os
alimentava. Sempre que alguém relatava
derrotas do império durante uma conversa, embora não emitisse sua opinião, ele
desenvolvia estratégias de si para
consigo, que, ao certo, acarretaria na vitória eminente, isso, com ele no
comando das tropas.
Para aquele menino, a maioria dos
generais eram todos idiotas e sempre tomavam decisões erradas. Principalmente aqueles
que ele conhecia pessoalmente. Pensava
ele que não se fazia mais generais como antigamente. Porém, com ele, tudo seria
diferente. Ele sendo general, levaria o exército de sua nação a conquistar
territórios jamais pensando pelo os mais otimistas do império. O garoto de
tanto sonhar, também não descartava a possibilidade de se tornar, em pouco tempo, imperador, pois talento para
tanto, ele tinha convicção que possuía.
Quando atingiu a maioridade, o
jovem ciente do que queria se alistou no exército. Pensava ele que com o conhecimento que tinha
de guerras, ele teria vantagens imensas em relação aos demais jovem soldados. Mal iniciou os treinamentos e mais uma guerra
estourou em seu país, e o império se viu
obrigado a recrutar o maior número de soldados possíveis para a linha de frente
para defender as fronteiras de seu território que estava sendo atacado por uma
nação inimiga.
O jovem soldado inexperiente, pensou
consigo mesmo, que aquela era a sua oportunidade de demonstrar ao mundo e ao
seu batalhão o talento que tinha para
general. Dirigiu-se sob o comando de um general qualquer que, segundo ele, mal conhecia de guerras, em direção ao campo de
batalha.
No campo, já bem próximos dos
inimigos, os soldados inexperientes foram instruídos a ficaram entre os flancos
da esquerda e da direita, para que ficassem protegidos, pois ainda não tinham
treinamento para que se dispusessem na linha de frente, tão pouco nos flancos,
pois era sempre por onde os inimigos iniciavam o ataque. O jovem, crente que a
estratégia do seu general estava completamente errada, e ciente que suas
instruções seriam de grande valia, decidiu que ia ter com o general para lhe
passar seus valiosos conselhos.
Mal a batalha iniciou-se, entre
os assovios das balas dos inimigos, ele deixou seu posto, e abrindo caminho por
entres seus companheiros, rapidamente, ele chegou à linha de frente; desprotegido e entre
as balas que tilintavam nas árvores, ele se dirigiu ao general com toda a sua
velocidade. No entanto, antes que pudesse proferir palavra que fosse uma bala
atingiu-lhe o peito em cheio, fazendo
com que caísse desfalecido naquela terra que tanto o alimentou.
Deitado ali, a vida passou diante dos seus olhos; todos os
seus planos, todos aqueles discursos, aquelas medalhas em que ele sonhara.
Pensou naquelas vitórias honrosas que ele teria se tivesse tido a chance de ser
general. Viu todos os elogios que ele havia pensando que lhe eram certo no
futuro, pois ele tinha talento para a guerra, logo, o povo de seu país iria, com
certeza, ovacioná-lo. Tudo que ele
havia pautado toda uma vida havia lhe sido tirado injustamente em poucos
segundos.
Pensou ele: “como podia aquilo
estar acontecendo? Tanto que ele havia
estudado, tanto que ele conhecia de todas as guerras da história, e naquele
momento, tudo se desvanecia nos milésimos de segundos que uma bala leva para
atingir o peito de um homem. Concluiu ele que a vida era de fato injusta.”
Eis que, seu mundo escureceu, passou a não
mais ouvir o barulho das baionetas que seguiam úteis naquela guerra; elas,
embora sem vida, eram úteis, enquanto ele, coitado, era inútil e morria, não
servia mais para nada. Seu sonho de se tornar um grande general se acabara ali.
Sentiu o jovem sonhador a bota do soldado último que o pisou, enquanto avançava
sobre o seu saudoso exército rumo a qualquer fim que para ele pouco importava.
E fora essa, a última sensação que o grande general futuro sentiu.
Aquele jovem, de fato tinha grandes chances de se tornar um
grande general, talvez até imperador, porém, esqueceu ele, que para que viesse
ser um grande general ele tinha que,
primeiro, ser um pequeno e cauteloso soldado.
Ás vezes, sonhos demasiadamente altos podem levá-lo a
constantes frustrações, senão acompanhados de sabedoria e paciência para
enfrentar os primeiros degraus ainda em terra firme.