quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

DESABAFO



                                                       Biblioteca de Rachel de Queiroz

Ocorreu-me que sou um saco de pancadas que as pessoas pensam que jamais se magoa; que não sofre as consequências comuns a todos. Talvez pensem assim devido o fato que não possuo ninguém e também não sou de alguém e, por esta razão, sou apto a receber todas as pancadas da vida, pois todos julgam que as aguento sem titubear mais que qualquer um. “Sem contar que não há quem o defenda.”  Não sei! Talvez me julguem assim devido a minha habilidade de contar até o fato mais ignóbil de forma divertida. Ou me julgam digno de toda dor mesmo, pois sou como poeira, sem alicerces, sem  coerência, sem objetivos concretos comuns a maioria; um pobre coitado sem perspectivas, já  que não leva nada a sério. Que culpa tenho eu, se a única coisa que levo a sério é a literatura e  todos que conheço tratam como inútil nos tempos de hoje! Sou  como um bobo da corte, que todos julgam boa companhia até o ponto de que precisam de um bode expiatório para culpar por qualquer coisa, afinal todos têm uma reputação a resguardar, têm pessoas a quem não querem magoar e, eu, não tenho nada disso. Sou um graveto descartável tão pequeno que não serviria nem para acrescentar na fogueira para acalentar o frio de uma noite gelada. 
  
Eu sou sozinho e vago sem destino, portanto, ponham-me em meio aos escarnecedores, aos desonestos, ponham-me no pote de barro dos que não possuem coração que isso não me fará mal algum.  “E se fizer, ele merece todos os impropérios do mundo mesmo, pois é um ateu irremediável e já se encontra automaticamente no inferno.”  E ai vem mais uma lista de infinitas humilhações: “Ele  Não tem posses, não tem coragem, é um vagabundo, vive como um parasita à custa dos outros. Há de morrer sozinho e pobre, como o pai.  Não possui honra, é um traidor que na primeira oportunidade troca os amigos por qualquer moeda de prata ou por um rebolado de alguma adolescente sem juízo.” - Não sou nada disso!-                                                                                                              
Eles jamais entenderão que eu não posso me render a minha realidade mesquinha; que eu possuo a mente de um gênio e que, por esta razão, eu preciso sacrificar-me por minha arte       
 - Ah Samuel, quantos sacrifícios fazes por tua arte. Poderia ser um frentista de posto com um salário fixo, poderia ser um professor de destaque na rede pública, mas não, é um gênio passando fome. Grande bosta és Samuel; um inútil que acha que possui uma grande mente como dos  gênios do passado, porém, jamais teve ou criou uma grande obra e nem sequer é visto por aqueles que lhes tem a um palmo das fuças.                                                                   
Mas Não importa quantas humilhações ainda eu tenha que sofrer calado, se bem que, quando não tenho calado tenho sido mais ridículo ainda, como bem disse Fernando Pessoa. Não importa! Eu irei suportar até as últimas consequências, minha literatura vale a pena, embora não seja nada para os demais. Vou morrer pelo o que acredito e quando o último soldado for abatido e restar apenas eu e o fumo das balas inimigas, eu estarei lá, esperando o chumbo que me atingirá o peito, mas com a minha bandeira erguida  e com a certeza que não morrerei  como um covarde. No fim, eu não terei a sensação que sucumbi à ordem da vida; não terei a dura sensação de que não fui eu porque me rendi à vida ao meu redor que exigia que eu fosse só mais um moldado segundo um padrão preestabelecido com o bordão: só assim, se consegue vencer na vida. Não serei um deles!  Eles serão esquecidos como todos os covardes que não compreendem que a vida real pode ser muito mais que um punhado de moedas de ouro acumuladas ao longo do tempo. 

Quando eu ouço calado os impropérios que a mim proferem, não pensem que é porque me faltam argumentos ou qualquer coisa que o valha que não retruco. Não digo nada porque sei que minhas palavras são preciosas demais para serem desperdiçadas em meio a gritos de ignorantes. Minhas palavras objetivam semear a paz e não a discórdia. Minhas palavras objetivam reconciliar o pai com o filho, o irmão com o  irmão. Vim trazer a rosa e não a espada! Minha luta é  interna e todos os sacrifícios e as humilhações que sofro apenas me tornam mais forte e mais convicto de quem sou. Ainda hão de ver eles as alturas que chegarei e, senão chegar, eu morrerei com a certeza que fiz o que podia e não me acovardei um minuto que fosse.
Literatura, humanidade, viverei e morrerei por isso!   

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Cadeira de balanço




Sentou-se na velha cadeira de balanço de metal que já se encontrava há vinte e sete anos na varanda da sua casa. Olhou para os lados: “nada de novo”. Quer dizer, a dor que ele docemente amargava apenas na mão esquerda agora se transferira para a direita. Verificou-o que cada movimento que proferia fazia bem mais barulho que quando balançava levemente sua adorável cadeira de balanço.  Notou que não tinha mais pensamentos concisos, que não mais alimentava esperanças por mocinhas que ora ou outra passavam de bicicleta aos gritos na antiga estrada que dava para qualquer lugar que não mais era o seu lar. Notou que era um homem decrépito, cujo se decompunha com o tempo que passava. Ele percebeu, com dor, que  há muito não gastava aquele seu merecido tempo como deveria. Ele era um mísero pedaço de carne intragável até mesmo aos vermes que o espreitavam famintos e desavisados, coitados, que ele, quando finalmente fosse jogado aos abutres, não lhe restava mais nada de nutritivo para alimentar um corvo que fosse, pois tinha gasto todas as suas energias em desconstruir-se seguindo os desejos dos outros ao invés  de ter se construído seguindo os próprios desejos. “O homem tem que se construir!”  Ele olhou para a velha estrada e, suspirou,  juntamente com uma rajada de vento que levantou poeira e acrescentou mais umas partículas avermelhadas no velho mourão que se encontrava no canto da sua cerca a mais tempo que conseguia lembrar e, notou que, até ali, ele não tinha feito nada com o seu passado, e o seu presente se encontrava ali, resumindo-se a uma velha cadeira de balanço e que o seu futuro não ia ser muito diferente.

 A vida toda, sem exceções, ele simplesmente seguira a ordem da vida, aquela vida medíocre condicionada aos poucos estudos, um emprego público mais medíocre ainda, uma esposa burra que jamais lhe dera ao menos a alegria de um filho. Ora, pois se ele havia conscientemente falhado em tudo, era justo que não falhasse também com sua natureza instintiva e já tivesse tido um filho aquela altura da vida. Mas nem isso! A vida toda, ele não passara de um funcionário publico sem chances de subir de cargo e, conciliar a isso, um agricultor sem destreza alguma, pois se tinha exercido até ali alguma atividade na lavoura não era de sua livre escolha.

 Ele não sabia lavrar um punhado de milho que fosse com maestria, como sempre sonhara o  seu pai cujo lhe deixou alguns hectares de terra. Ele odiava falar sobre as cifras que precisaria gastar para arar a terra a ser logo semeada. Odiava ter que  ir aos dias de folga a cidade para comprar ração  para as galinhas que sua esposa, aparentemente,  amava mais do que a ele próprio. Odiava ter que fofocar com vizinhos mexeriqueiros sobre as mulheres separadas que davam para qualquer transeunte que passasse na estrada.   Odiava ter que suportar os “baba ovo” do prefeito da sua pequena cidade, que só falavam maravilhas do corrupto que já se encontrava há mais de vinte sete anos no poder só para lhes garantir mais um ano de trabalho mole na máquina pública do município. A verdade é que ele odiava ser obrigado a ser um deles! Ele verificou que odiava quase tudo na sua vida medíocre! Que tudo que ele havia feito e conquistado até então não tinha sido para si e, sim, para agradar aqueles que o rodeava.  

 E passados mais alguns redemoinhos de poeira sem direção previsível frente a sua varanda,  ele acabou verificando também, já enfurecido, que até mesmo aquele gemido da sua velha cadeira de balanço cujos tanto o acalmara em outros tempos, bem mais que os grunhidos que proferia sua esposa nos poucos segundos de furnicamento que tinham de ano em ano, que aquilo também, como tudo na sua vida, era ridículo.  E o fato dele se conformar com tudo, o tornava mais ridículo ainda.  Eis que, mesmo contra todos os pensamentos que o assolava, ele decidiu levantar-se daquela moleza, daquela monotonia e fazer algo por si mesmo: foi até o pé de manga, tomou uma belíssima manga nas mãos, verificou o quanto o adubo ali posto aquele ano tinha feito bem ao seu antigo e bem cuidado pomar, tomou uma faca e, com maestria, cortou a manga e a devorou vorazmente, pois tinha fome e, depois de satisfeito, retornou a sua velha cadeira de balanço, que ao certo ainda suportaria suas reflexões, embora resmungando, por mais uns vinte sete anos...    

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O esmalte rosa


Aos doze anos, ela fora violentada por seu primo enquanto buscava lenha no matagal próximo a sua casa. Isso se repetiu várias vezes. Até que, depois de um tempo, mesmo sem a pretensão de catar qualquer coisa, ela passou a se direcionar quase que diariamente para o arbusto frondoso e verde, aquele no qual seu primo, por inúmeras vezes, a obrigara se despir e ficar em silêncio.  Eis que, naquela ânsia humana, ela engravidara. Ela não era bela, ele também não. Não tinham recursos, não estudavam. Viviam ambos na mesma condição social. Eis que, perceberam que o que tinham mesmo era um ao outro. O rapaz magro, castigado do sol, construiu uma casinha no fundo do quintal de seus pais, com tijolos que ele mesmo confeccionara com argila.   Passaram a morar juntos.  Depois de um tempo, a mulher, conscientemente, resolveu pintar as unhas com um esmalte rosa. Já tinha três filhos, cujos lhe renderam marcas irreversíveis no corpo, isso adicionando as das pancadas que o marido sempre lhe agraciava todos os dias.  Ela vendo a sua vida monótona, em que nem mesmo a brutalidade do marido lhe dava folga um dia que fosse, resolveu passar um esmalte rosa nas mãos sujas para agradar o companheiro e ser feliz. O marido, ao chegar em casa, transbordando de boas doses de pinga, vendo o rosa nos pés pretos da mulher indignou-se e, violentamente, os colocou sobre um velho tamborete que tinham e, irracionalmente, passou a cortar os dedos da companheira, um por um, enquanto ela dizia que o amava mais que tudo.

 Conto de 500 caracteres 

domingo, 1 de novembro de 2015

Eles hão de chegar a mim



Tu há de chegar lá menino!
Tu é nordestino, tem o pescoço grosso e a cabeça chata.
Só tem que ir pro "Sul". Aqui as coisas são difíceis.
Tem que ir, trabalhar, juntar dinheiro.
Tu há de ser um garçom de primeira na cidade de São Paulo.
E quando voltar, há de comprar um carro,
construir uma casa e arranjar uma boa moça pra casar.
É o que todo mundo faz, é só não esquecer de quem tu é. 
Não esquecer da tua terra, esta que te mantém de pé.
Tu há de chegar lá menino!
O povo aqui tem poucas chances,
tem só que viver de diárias na enxada,
calejando as mãos e queimando a pele,
e apesar de ser um trabalho digno,
 não sustenta uma família com doze moleques.
Bem vê tu o exemplo do teu pai: 
trabalhou a vida toda e quase não tem um pedaço de terra pra morar.
Tu tem que ir embora, fugir desse destino,
voltar, montar o próprio negócio,
e viver de sombra e água fresca. 
Mas lá no "Sul" também não tem moleza,
tem que trabalhar no duro dia e noite. 
E não pode gastar mais do que o necessário,
apenas com vestes e aluguel,
senão não volta mais pro teu nordeste.
Mas tu há de chegar lá menino.

-  Mas eu não quero deixar minha terra. 
Lá não tem caju, nem manga que a gente come direto do pé. 
Tudo tem que comprar, até o ar que se respira.
E ninguém ajuda ninguém,
nem um copo d'água se recebe de graça.
Prefiro minha terrinha,
donde se acorda cedo,
Tem o canto dos pássaros pra acalmar os nervos,
lá só tem o barulho dos carros,
a fumaça entrando pelas fuças.
Homens, uns engolindo os outros
na ânsia por sobreviver.
Sem contar no preconceito. 
Ei de ir lá um dia, mas apenas quando for chamado pra receber um prêmio. 
Sei lá, um prêmio pela minha inutilidade nesse mundo vão.
Embora aqui também eu viva só em um mundo hipócrita,
pois tenho que nivelar meu nível intelectual à um patamar medíocre,
isso se eu quiser permanecer rodeado de gente. 
Aqui, se eu for eu, ninguém me entende. 

Estou condenando a solidão.   







domingo, 25 de outubro de 2015

Amanhã



A esta hora da manhã,
Há uma funcionária de uma fábrica qualquer
esperando que chegue meio dia pra comer, com gosto,
o alimento que trouxera de sua casa numa marmita.
A esta hora da manhã,
há em algum lugar, um menino chorando enquanto
espera com um recipiente de plástico
o alimento de todo dia que ao certo não receberá.
A essa hora da manhã,
certamente há um menino gordo que sorrir com um
grande pirulito na mão, cujo conseguira
ao custo de muitas lágrimas e gritos, pois jamais o merecera.
A esta hora da manhã, é certo que há um homem cheio de tudo
que não ver sentido em nada.
Há também um homem feliz que valoriza
demasiadamente os laços com quem o cerca.
A esta hora da manhã
há um homem sob sol escaldante labutando na lavoura
com um sorriso no rosto, cujo salga com o suor que derrama com gosto
pois ao final do dia, terá da mulher magra e castigada
dez minutos de fornicamento selvagem.
Há também um homem triste,
na mesma luta com gosto, pois ao final do dia
ele irá gastar o ordenando diário com algum vício qualquer, cujo este, o destrói rapidamente.
A esta hora da manhã
certamente há um jovem trabalhando contente
pois passado o dia, ele comprará um buquê de flores
que lhe renderá um sorriso da mulher amada.
Em face disto, também há uma mulher ciumenta que corta as vestes
do marido por que sentiu um perfume diferente numa peça qualquer.
Há também uma moça linda, de avental quadriculado, cantando alegremente
enquanto prepara uma torta para a pessoa amada.
A essa hora da manhã, tenha como certo que
há uma adolescente sorrindo enquanto observa a foto
de um cara que supostamente ama.
Há outra, em contra partida, que chora porque não se sente amada por ninguém.
Há também de existir alguém que se sente vazio,
pois tem como certo que não ama ninguém.
A esta hora da manhã,
há um homem que amou tanto na vida
que viu beleza em tantos sorrisos
em tantos cabelos longos e,
os últimos olhos grandes que vira,
os amou também, como tudo que lhe têm sentido.
E este sabe que ainda amará eternamente tantos outros sorrisos e
só por esta razão é feliz.
A esta hora da manhã há tantas vidas vivendo igual
a tantas que conhecemos.



segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Não somos originais nem aqui, nem na China


Estamos vestidos, é preciso nos despir! É preciso tirarmos um pouco de humanidade de nós,  sermos mais animais, mais instintivos. Ora, estamos vivendo no pecado de sermos demasiadamente humanos, (embora o pecado seja uma das vestes mais maltrapilhas criadas por nós) estamos vivendo com toda hipocrisia possível, com todas as regras imagináveis, estamos cobertos de aparência e com o mínimo de essência. Somos frascos com rótulos. Se ao menos cada um fosse fabricante da seu próprio logotipo, mas somos fabricados em série por multinacionais, todos com os mesmos rótulos, e pior, com os mesmos conteúdos, e ainda pior, com as mesmas reações, com os mesmos sonhos.
Somos moldados a partir de um modelo único de sobrevivência garantida, embora essa sobrevivência requeira um pouco de esforço de uns e uma luta sobre-humana de outros, donde os mais fortes sobrevivem, os mais fracos também, mas as custas dos mais fortes ou o contrário. Na verdade, o contrário é o que sempre acontece, embora  o conceito de fraco e forte esteja um pouco destorcido devido a nossa humanidade racional demais. Fortes são aqueles que conseguem viver com o mínimo, da própria natureza, utilizando praticamente o instinto animal, cujo é de onde a natureza reconhece a verdadeira luta. Fracos são os que se aproveitam dos mais fortes (Este é o conceito instintivo, destituído de racionalidade). Tudo na vida humana, resume-se a chegar à um padrão: nos tornarmos iguais, e  mesmo assim, ainda existe aquele "discursinho" de merda que somos únicos. Únicos o caralho! Todos queremos ser igual á alguém que aparentemente obteve sucesso na vida.  Isso é Ser humano!  

Se o sistema em que vivemos de  modelos rotulados em série sucumbisse, poucos sobreviveriam, pois desde o nascimento já nos são inseridos os caminhos que devemos seguir; todos os nossos sonhos, o que devemos ter e o que devemos evitar. Infelizmente temos uma receita "pra sermos alguém na vida" quer negue, quer não. Se essa ordem descarrila, ficamos perdidos.  E a regra suprema do sistema é: não ouse ser diferente, siga os demais, tente ser igual a todos, que tudo vai dar certo. Siga os passos daqueles que conseguiram noutro tempo o que você deseja, afinal, ninguém tem sonhos originais mesmo, só desejamos o que outros já tiveram um dia. Tanto é verdade que os poucos que resolvem escolherem os próprios caminhos ficam a margem da sociedade, são discriminados ao ponto de não serem considerados humanos. Coitados de nós que pensamos que somos únicos, inimitáveis, só temos de único o padrão das impressões digitais e se visto de longe é só um dedo, e como vivemos de aparência, pouco importa. Ai, um individuo pensa que por que tem a liberdade de escolher a profissão pensa que é livre, que não é dominado por um sistema, engana-se completamente, pois o objetivo principal de todos é adquirir fortuna, conseguir um bom parceiro reprodutivo, este, por sua vez, analisa a sua fortuna, constatando que o escolher pode prouver alimento para ele e sua prole o aceita de bom grado, achando também que fez uma escolha livre. Que alienação meus caros! É preciso nos despir, sermos um pouco menos humanos e assim, conquistar a liberdade tão sonhada.  Mentira, não precisamos nos despir não, se tá funcionando, é o correto, nunca estivemos no controle de nada mesmo. Essa é outra verdade que ninguém quer aceitar.  Eu só quero ser igual à alguém!
Liberdade é livrar-se da maldita frase "vencer na vida!" 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Puta que pariu, a gente envelhece



Meu Deus, a gente cresce! E pior ainda, a gente envelhece; fica rabugento, insuportável, perde a graça, cansa fácil de ser a gente e, pior, cansa fácil de ter que agradar os outros, de ser obrigado a ser hipócrita na maioria do tempo. Tudo cansa.
Puta que pariu, a gente envelhece e, amadurece, só que nem sempre. Não devia.
Ora, Peter Pan tinha razão, eu era feliz enquanto criança, não tenho dúvida; era feliz quando os meus maiores medos eram de carro preto e de Chupa cabra. Agora, tenho uns medos tão toscos e sem graça. Pois vejam: tenho medo da realidade,  medo do tempo que passa sem volta. Enquanto criança eu sequer via o tempo passar, hoje tenho medo da morte, que me é tão certa quanto o amanhã, embora a morte possa me tirar o amanhã.
E são medos chatos, pois é duro superá-los sem tempo.  Antes eu tinha medo da escuridão e passava quando cobria o último dedo do pé com o lençol.
 Que saudade do tempo que meu maior medo era ficar de vovó nas brincadeiras de roda. Hoje tenho medo da solidão, de ficar só, afinal, manter as pessoas próximas requer um gasto de energia excessivo.  Sem contar que tem algumas pessoas que dá vontade da gente simplesmente cortar relações mesmo, de mandar pra ponte que partiu sem pensar. Mas hoje não posso mais me utilizar de  um gesto infantil  tão útil que era de separar os dedos do outro com a mão com a promessa de que nunca mais  nos falaríamos.  Embora no dia seguinte, sem mágoa, voltássemos com a mesma amizade, como se nada tivesse acontecido, porque enquanto criança a gente não acumula nada, nem mesmo mágoas.  É aquele "viver" o presente sem grandes preocupações. Quando nos tornamos adultos, uma bola de neve vai se formando e é inevitável que ela machuque alguém e é sempre quem não merece. 

Mas o tempo passa e aquela frase "pra sempre" começa a ser realidade e dói. Enquanto criança "pra sempre" era só a felicidade dos mocinhos no final dos contos de fadas, e mesmo,  essa parte  não nos interessava.  Que saudade que eu tenho do tempo que eu não tinha medo de perder as pessoas para todo o sempre.  
Saudade do tempo que a maior prova de amor era guardar o lugar do outro com a mochila pra garantir que sentaríamos juntos na escola. Saudade do tempo que o melhor presente era um pirulito Pop, cujo lhe rendia um sorriso que o elevava ao paraíso. Era tudo tão simples, tão cheio de cor. Hoje, a maioria das pessoas custam-lhe tempo e suor e, ainda tem a possibilidade das decepções. A felicidade devia custar somente o preço de um sorriso, assim como na infância. Hoje, a maioria dos sorrisos custam a hipocrisia de ambas as partes; um  por fingir que acreditou que são sinceros e a outro pelo esforço de proferi-los sem vontade. 
Saudade do tempo que a mentira que ouvia era que tínhamos vindo no bico da cegonha, ou que o coelhinho da páscoa colocava ovos de chocolate. O tempo passa e as mentiras tornam-se sérias demais e sempre trazem consequências drásticas.  A gente envelhece, mas não devia. 

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Hipócrita?!



Eu fui, sei lá, comparado a maioria!
Fui colocado juntos aqueles hipócritas que "ter" basta!
Aqueles em que à aparência idiota de uma marca, ou um perfume caro,
dá sentido a toda uma vida vazia.
Se ao menos tivessem eles chifres de marfim,
mas são meros pedaços de carnes humanas ambulantes,
apodrecendo como uma hiena que buscou alimento no deserto sem vida.
Pois vejam, quem são eles!?
Mas eu não sou um deles, tentei ser,
mas falhei, como tudo que fiz na vida!
Eu, se fosse igual eles, me importaria com a aparência,
com os status condicionados ao que se possui.
Quem disse que eu não queria ser um maldito frasco de um veneno barato,
cuja caveira no rótulo assusta devido a memória associativa ao símbolo,
 Mas se bebido, o efeito não passaria de uma pequena dose de Aspirina.
Eu, sou bem mais intenso que isso.
Eu só preciso SER!
Tu que me conheces deves bem perceber!
E fui colocado junto a escória do mundo,
Talvez eu tenha me magoado,
afinal tenho um coração que bate humanamente por outros humanos,
que eu julguei que eram também diferentes da maioria.
Teus olhos, pareciam tão humanos e únicos.
Foda-se essas minhas doces lembranças!
Eu bem sei que fui misturado em um redemoinho de hipócritas.
Justo eu;
Eu que vou conseguir tudo que desejo a duras penas.
Sabe por quê?
Porque não sou estes que escolhem a via mais fácil;
Irei conquistar tudo como um chimpanzé que tenta encaixar
um estrutura quadrada no molde circular e consegue,
unicamente porque umas das estruturas sucumbe a insistência.
Eu percebi que não signifiquei nada.
Que tudo que sonho,
todas as minhas convicções,
são faíscas ante a chama hipócrita do mundo.
Quem dera eu encontrar meu mundo de gente.
Mas eu, em vez de proporcionar um mundo concreto,
tenho apenas as sensações mais intensas, mais humanas a oferecer.
Acho que fui solicito demais,
que me entreguei demais.
Mas quem disse que aceito meio termos?!
É tudo ou nada. Agora, resta-nos nada.
Agora resta-nos as infinitas linhas vazias desta poesia,
como o vazio que há em mim.

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 ENGLISH VERSION

Hypocrites?!

I was compared to most!
I was put together those hypocrites who 'have' is enough!
Those in which the stupid look of a brand, or an expensive perfume,
It gives meaning to all an empty life.
If only they had ivory horns,
but are mere pieces of human meat,
rotting like a hyena who sought food in lifeless desert.
For you see: who are they !?
But I'm not one of them, i tried to be,
but i failed, as everything I've ever done!
If I were like them, i minded with the appearance,
with the status conditional on you own.
Who said I did not want to be a fucking bottle of a cheap poison,
whose skull on the label frightens due to symbol associative memory,
 But if drunk, the effect is only of the a small dose of aspirin.
I am much more intense than that.
I just need to BE!
You who know me, well you should see!
And I was put, together the scum of the earth,
I may have hurt me,
Cause I have a heart that beats humanly by other humans,
I judged they that were also different from most.
- Your eyes looked so human and unique.
Fuck these my sweet memories!
I know that was mixed in a swirl of hypocrites.
Just me;
I'm going to get everything I want with great difficulty.
Do you know why?
I am not those who choose the easy way;
I will conquer all as a chimpanzee trying to fit
a square-structure in the circular mold and can,
only because each succumbs structures insistence.
I realized I did not mean anything to you.
Everything that i dream,
all my beliefs,
They are sparks in the front the flame hypocrite in the world.
I wish I find my world of people.
But I, rather than offer a real world,
I have only the most intense sensations, more humane to offer.
I think that I was too fool,
That I gave myself too
But who said that I accept half terms ?!
It's all or nothing, now, we are left with nothing.
Now, this poetry has more endless empty rows,
as the void in me.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Quando eu partir

                                    Julien Dupre

Quando eu me for e eu irei..., 
e pensares tu em trazer-me flores onde pensas que eu fiquei.
Não perca seu tempo, lá não estarei. 
Em vez disso, me leia, relembre que aqui estive.
Relembre dos sorrisos que despertei,
e deixe que floresça milhões de flores em teu coração,
que é onde de fato sempre permanecerei. 
Quando eu me for e eu irei...,
e pensares tu em derramar lágrimas porque cá não mais estarei;
perca seu tempo, relembre, me faça importante, 
pois isso prova que um dia por ti também me importei. 
Isso prova que um dia te amei,
que te importei para o meu coração e contigo sonhei. 
Isso também prova que eu nunca desisti, 
embora a vida tenha me imposto 
realidade em demasia, cuja dela mesmo nunca precisei.  
E se derramares lágrimas que nunca sejam por remorso,
pelo o fato de que poderia ter feito mais.
Digo-te que fizeste o que eu mereci...

Quando eu me for e eu irei..., 
e pensares que cá não mais estarei, 
lembra que, 
se sentes minha falta, é porque daí nunca partirei. 
Lembra dos sorrisos que contigo partilhei, 
das loucuras, das frases toscas, dos conselhos inteligentes,
dos momentos clichês que com mais ninguém viveste, 
dos abraços eternos em que eu te apertei,
dos desejos dos beijos... 
Não sejas tola, é contigo que eu sempre estarei. 
Quando eu me for e eu irei...,
recorda-te das vezes que em ti me inspirei,
Das letras que por ti agrupei cá nesses textos em que lacrimejei ao escrever-te.
Lembra-te que fui feliz, que te fiz feliz,
que fomos felizes, 
tal qual faisões e perdizes,
Estes, nunca capturados pelo Cúpido.   
Quando eu me for e eu irei..., 
plantem-me juntos com milhares de frutos do tamarineiro, 
azedos e prazerosos,
tal qual os sentimentos que sempre despertei. 
Lá, juntos com as sementes eu renascerei, 
se assim, eu for regado pelas lembranças
daqueles que eu um dia amei. 
Quando eu me for e eu irei...,
lembra quem fui, não esquece de quem fui EU. 
Lembra-te que eu fui um sonhador e que, contigo sonhei. 


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Memórias de uma execução



A lâmina dilacera nossa pele por diversas vezes em ensaio.
É seguido o protocolo de execução;
capuz, platéia, homens sem remorsos, prontos a matar
pois não se importam em morrer.
A vantagem deles sobre nós é que queremos viver.
Como se luta contra algo assim?!
"A derrota inicia com o enfrentamento."
Eis que, por inúmeras vezes, tudo se repete:
a lâmina, a câmera, dispõe-nos de joelhos e espera-se o fim.
Não desta vez, é preciso que isso se repita ao ponto que
o objetivo final seja desacreditado por nós mesmos.
A esperança sempre se mantém...
Esperança esta que nos mantém imortais até o último milésimo de segundo.
Quão bobos somos!
Não há como fugir do terrível destino, no entanto, acreditamos.
Quão louvável é a capacidade do homem em acreditar no surreal!
Eis que, num fatídico dia, igual aos anteriores,
quando pensamos que seria apenas mais um ensaio, a navalha perfura nosso pescoço;
Afiada, fria, prateada, ela reflete a luz do ambiente, a última luz que veremos.
Dói, isso dói, bem sabemos... Ela perfura até atravessar a garganta
Mas dor mesmo é ter a consciência que acabou.
Nos são arrancadas as necessidades com um golpe de navalha:
Planos para o futuro;
casas, grama verde, cercas brancas, filhos, pra quê?!
Resta-nos apenas a consciência do fim.
Quão dolorosa é a consciência do fim!
Após o golpe primeiro, o sangue nos enche a garganta
e não nos deixa gritar (E pra quê gritar? Ninguém ouviria!)
O golpe e aquela maldita certeza nos esfria o corpo.
lutar não seria possível.
Poderes especiais, tal qual víamos nos filmes, hum, apenas um sonho...
Nossa pele é fina e facilmente dilacerada com um punhal afiado,
afinal, não temos um corpo banhado com sangue de dragão.
Quão dura é a realidade.
A lâmina então caminha levemente cortando nossa vida,
tirando-nos o ar. Respirar dói!
Com maestria e frieza, o homem,(não teria outra palavra para denominar o carrasco)
desliza a lâmina e corta nossas artérias, nossas ligações nervosas,
mas ainda vemos o mundo, as vestes negras e a dor, que se esvai a medida que a lâmina percorre nosso fino pescoço.
Os líderes de nosso país, visando o bem maior,
não nos salvaram.
Era preciso ainda ter força de explodir tudo ao redor,
embora fossemos juntos, aquela crueldade não podia mais continuar.
Se pensa tanta coisa rumo ao fim.
"Deus, mande uma bomba atômica de cinco quilotons
e nos explode junto com esses monstros,
 não é justo que tenham tanto poder sobre a vida pelo simples fato de não terem ânsia de viver!"
Eis que, a lâmina fria finalmente chega a coluna vertebral,
bem onde se liga o cérebro ao resto do corpo;
"Morremos por nosso povo!"
A partir dali não se ver mais nada
Fica-nos gravada apenas uma imagem congelada de tudo ao redor.
E esta, nos será eterna pelos milésimos de segundos que nos restam.
Não há mais dor, não há mais nada...
Ao menos existe o paraíso, ao menos isso...


Samuel Ivani

sábado, 12 de setembro de 2015

Câncer de amor

                                                       Abaporu  Tarcila do Amaral 

Amanheci com um câncer de laringe, me curei com uma boa conversa e quantidades exageradas de água benta. 
Despertei com um câncer de pulmão, me curei com a certeza de que nunca fui um fumante, e claro, com doses exageradas de água da bica. Acordei com um câncer de estômago e acabei me curando do nada.
Outro dia, anoiteci profundamente melancólico e acabei sarando com um olhar, com um "Oi" de quem me importava. Certa vez anoiteci com o coração partido e, bem..., coitado de mim, desaguei um dilúvio inteiro e até então não me retornaram com um ramo de oliveira avisando-me que eu já podia continuar.  
A gente vive assim, vivendo dos outros e, de nós mesmos, resta-nos apenas morrer; seja de espera, de ilusões, de sonhos, decepções, de saudade. Só vivemos pra amar os outros. Por isso eu amo e vou vivendo assim, morrendo de amor. 

S.I 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Meus vinte e poucos anos


Chegaste aquele ponto meu caro! Não és mais um jovem. Não tens mais a mesma energia. Creio que já notaste, embora a duras penas, que tu não és o centro do universo e que, se ele conspira alguma coisa na tua vida, é sempre a favor dos outros.  Agora, diz-me o que construíste? Que castelos tu levantaste? Que sonhos realizaste? Tolo idiota, viveu a vida deixando escapar os amores, os amigos, as pessoas. As pessoas se vão, é natural! Amigos te restam dois ou três. Talvez preze pela qualidade e não pela quantidade, ou talvez tu que esteja já rabugento e não tens mais paciência pra cativar Deus e o mundo.  A vida meu caro, requer construir qualquer coisa. E tu, coitado, és uma maldita fábrica de construir inutilidades. Era preciso que tu construísses casas, cercasse terrenos, criasse rebanhos e mais rebanhos de cabras. Mas não, aqui está você nesse mundo metafísico sem construir nada que assegure alimento para tua prole. És de fato um inútil! Se a vida passar, e tu não deixar herdeiros, será de fato um fracassado.      

Chego a esta idade e não tenho um rebanho de cabras, não tenho sequer um lote de terreno pra cercar, não tenho filhos pra criar, não tenho esposa pra trair, eu sequer posso ser corno.  Não dá!

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Por ventura, quereis tu traçar linhas imaginárias entre os pontos das sardas criadas pelo tempo?! Ora, não vês que se houveram amores não vividos nesses nossos muitos anos, foi por falta da minha incapacidade. Não há desenhos que se forme entre nossas sardas. Em nossas mãos ossudas, apenas evidencia-se o tempo. Nessas veias azuis como penas das galinhas da Angola, permeiam apenas o tempo. Nossos timbres já trêmulos não têm a mesma potência que tínhamos nos anos dourados do rádio. Não cantamos mais juras eternas de amor. Não há mais óperas. Não há mais gritos! Ó, tempo, tiraste-me até as estórias de cavaleiros. Tirou-me os cestos de cipó, a idas aos teatros, a vida! No fim, perde-se a vida, ganha-se a batalha! Porém, se olho para trás, vejo fracassos, sonhos sonhados com intensidade e quase nada de realidade. Ah, os amores! Vede: não os vivi, nem por uma vez que fosse. Deixamos que o tempo nos desse apenas amargas lembranças daquilo que não vivemos. 

Tu não tens mais aquele sorriso. Ainda tem aqueles olhos, mas neles já se vê gasta uma vida! Não há mais tempo. Amei-te tanto, tínhamos tanto para ser vivido antes. Se daquela vez que te enviei telegramas jurando-te fidelidade, jurando-te nunca mais esquecer-te, tivesse me enviado uma resposta dizendo-me apenas para ter calma.   Mas não. Tu me ignoraste, agora, amargamos esse amor nunca vivido.   

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Eu não fui nada nesse mundo



Eu fui nesse mundo tanta coisa e coisa alguma!
Tudo não passou de uma tentativa pra ser aquilo que não nasci pra ser.
Tentei ser o Nerd da turma, mas me faltava coragem, comprometimento.
Tentei ser um Lord galanteador, porém, faltou-me classe e beleza.
Tudo na minha vida foi uma triste e frustrada tentativa.
Tentei ser um indivíduo comum, com emprego, horários, relacionamentos duradouro, entretanto, faltou-me saco pra essa vida medíocre.
Tentei ser um louco aos olhos dos outros!
Quis tomar a minha mochila, pegar a estrada,
Viver, sabe..., sem rumo, apenas importando-me com uma obra que
jamais seria capaz de produzir.
Porém, a vida medíocre a minha volta impediu-me
da forma mais cruel possível: não suportei as falácias dos outros.
Quis ir à faculdade, instruir-me, conseguir um emprego,
Relacionamentos duradouros, mas a vida escolheu-me um curso bom,
Tudo que muita gente queria, mas não eu.  
Não suportei ser menos do que eu.
Não passei de um sonhador cujo lutou em vão a vida inteira
pra não seguir a ordem comum a todos e, sabiamente, a ordem me esmagou.
Quis ser o palhaço; aquele cara cativante com piadas inteligentes,
porém, descobri que não passava disso.
Eu era um tolo caminhando pela vida, se repetindo
incessantemente, para cada nova pessoa que conhecia.
Eu era pequeno e sabia. 
Tentei ser aquele cara popular, tonto, importando-me apenas com o presente,
Com uns sorrisos que conquistava a pouco custo daqueles iguais a mim que me rodeava.
Porém eu, irracional demais, reflexivo demais, me dei conta que
a vida tinha que ser maior que aquilo...
Eu quis ser um convicto de quem eu era, mas eu sequer sabia quem de fato era.
Talvez, a única personalidade que chegou mais perto de ser quem de fato eu era,
Fora quando, sabiamente, quis ser um sonhador convicto que a minha carne, meu corpo,
nunca seria nada, que eu tinha apenas que me dispor num quartinho obscuro e úmido e,
lá ler e escrever incansavelmente, e o mundo lá fora que explodisse!
Porém, fui fraco, a ordem mais uma vez me mutilou.
Eis que, ante a tudo isso, cujo nunca passou de nada aos que me cercaram, 
sei que um dia serei apenas  “lembranças” nos corações dos que um dia disseram que me amaram.
Embora muitos tenham confessado apenas pressionados pelas vezes que proferi,
sem necessidade, que os amava mais que tudo, pois se tem algo que fiz na vida, foi amar.
Mas nem isso fiz direito!
Nada fiz nesse mundo de proveitoso, meus caros, nada!
Fui um sonhador e só!
Suporto isso, meus senhores, sem desandar?!
Sabiamente, não sei.

A corrupção no Brasil é um meteoro cuja queda não nos afeta, saber que caiu é que é o grande problema.


A maioria dos brasileiros não compreendem a importância do nosso momento politico, digo isso principalmente por conta de um vídeo que acabo de ver do Sr. Fábio Jr em NY, em que ele reclama, com toda razão, da corrupção, atribuindo todo o problema aos nossos partidos políticos. E os nossos conterrâneos, xingam com toda a educação que nos foi dada a nossa ilustre presidente.

Não defendendo os políticos, sabemos que eles são reflexos da nossa natureza, criado a nossa imagem e semelhança, apenas acho que a ignorância não nos levará muito longe, como bem vemos no presente até que ponto chegamos.

Ilustres destituídos de bom senso, a corrupção em nosso país vem desde os tempos dos portugueses que ludibriaram nossos índios com espelhos. Desde então, viemos trocando a terra que nos alimenta por qualquer moeda de prata. Isso vem acontecendo ao longo de séculos, e nós, com o nosso carnaval e futebol, víamos vivendo percebendo a realidade, no entanto, sem comprovações não estávamos nem aí, portanto, era cada um com seus problemas. -Que vida boa! 
Agora, que estamos vivendo o ápice da nossa democracia, com a transparência que nos tem proporcionado o notável trabalho da Polícia federal, o mundo simplesmente desmoronou e não temos como continuar. Ou seja, o crime, o dinheiro destinado a corrupção, não nos fazia falta, a transparência, cujo é algo bom, é onde vemos que se encontra o problema. Mesmo vivendo em meio a miséria e o descaso do poder público, tudo aquilo era suportável. Agora imagine se a polícia federal não tivesse tomado a iniciativa, não tivesse começado ir fundo no problema, continuaríamos na mesma vida boa não? 

Vivemos um grande momento para o nosso país, porque se numa democracia tudo está em ordem, "há algo de podre no reino da Dinamarca" como disse Hamlet. Vivemos o momento que temos a chance de provocar a ruptura que desejamos para o nosso país, só que precisamos compreender que somos todos corruptos e temos que colocar na cabeça os ensinamentos de Gandhi: "seja a mudança que você deseja no mundo."

Temos que protestar sim, mas não podemos ser ignorantes ao ponto de atribuir a corrupção ao um partido ou à um politico. Ela está enraizada na nossa cultura, quer negue ou não. Porém, agora estamos evoluindo para pelo menos amenizar a corrupção, pois estamos conhecendo o problema a fundo.  

Nós, estamos vivendo o melhor momento político do nosso país, porque sem a descoberta de toda esses escândalos, iriamos continuar na mesma até quando Deus quisesse, como diz a música. Não confundir momento político com econômico, embora os dois caminhem juntos inevitavelmente. 
Precisamos de bom senso pra compreender que estamos evoluindo e não desmoronando. Pelo amor de Deus, sejamos sensatos. O que não quer dizer que precisamos nos acomodar também. Os Brasileiros começam ver os escândalos na mídia e dai vem a burra sensação de que o céu vai desabar sobre suas cabeças. Ou seja, a corrupção no Brasil é um meteoro cuja queda não nos afeta, saber que caiu é que é o grande problema. 

Amo o meu país, não troco minha terra por tesouro de prata nenhum. Quando todos pensarmos assim, conseguiremos colocar no governo pessoas ideais. O problema é que os nossos governantes são reflexos do que somos, sempre vai ser assim, logo, só realizaremos esse sonho, quando atingirmos essa compreensão, como creio que está acontecendo agora.